Caminhos Mínimos ou Como sobreviver ao GePeEsse
Não é tão difícil entender como funciona um GePeEsse, ou GPS. Basta imaginar uma coisa que fica acima de nós e que é capaz de saber onde estamos e cada detalhe da geografia que nos cerca. Com isso, pode nos indicar caminhos a seguir. Uma versão (muito) reduzida do que às vezes pensamos que é Deus.
Não quero provocar polêmica com essa comparação, mas não consigo deixar de pensar no GePeEsse (escrito assim, como nome próprio) como um pequeno Deus, pelo menos durante a viagem que se faz a seu convite. Sim, eu não o levo; vou a seu convite mesmo. Se ele não quiser me levar, não me leva e pronto!
Nem todos têm o privilégio de viajar a convite do GePeEsse. Ele escolhe pessoas esclarecidas, de bom poder econômico, que gostam de se aventurar por lugares desconhecidos e distantes. Você deve intuir que são então pessoas decididas, voluntariosas, com opiniões próprias, certo? Errado!
De alguma forma - e não me pergunte qual é - o GePeEsse escolhe as pessoas certas para dominar. É possível que algumas delas estejam perdidas (perdoe o trocadilho), mas, via de regra, todas se rendem a ele, com ou sem recaídas. O ponto fraco é o desejo humano de fazer sempre o menor caminho entre origem e destino. É para isso que o GePeEsse serve, não é? É. Mas não queremos o menor caminho. Queremos “o” menor caminho. Percebe a diferença? O menor caminho pode ser a pior alternativa. “O” menor caminho pode ser até maior, mas é “o”, compreende? Se o GePeEsse não pode me dar “o” menor caminho - leia-se o melhor menor caminho -, então, para quê, afinal, queremos o menor caminho?
Que eu saiba, Deus que é Deus, na forma de Seu filho, não fez o menor caminho para mostrar a que veio. Teve que viver 33 anos e passar por tudo o que passou! Por que nós, meros humanos, queremos ser mais espertos do que Ele?
As poucas vozes que se lançam contra o GePeEsse reclamam de suas sugestões de caminhos completamente imprevisíveis e indesejáveis. Seria muito fácil justificar essas “roubadas” com a informação da menor distância. No entanto, devo reconhecer um certo poder inexplicável do GePeEsse. Quando estamos prestes a abandoná-lo, ele nos surpreende mostrando algo que nos faz render. Como ele pode, ao mesmo tempo, dar um caminho improvável, ilógico, e incluir nele alguma paisagem surpreendente? Como sair da autovia, muito mais rápida, e desviar pelo caminho do lago, da cachoeira, das flores, sem que tenhamos a menor noção de que eles existiam ali?
O mais surpreendente, no entanto, é o poder que ele tem sobre aquele que guia. Seguir o GePeEsse é o mesmo que viajar com os olhos cerrados o suficiente para enxergar apenas o Mestre. É chegar sem atravessar, é visitar sem observar, é ter ido sem saber voltar.
Antes de ele existir, viajar era mesmo uma aventura. O que se tinha era um roteiro de cidades, de ruas, de locais, mas apenas um roteiro que ia se revelando conforme percorrido. Essa descoberta era parte do prazer em viajar rumo ao desconhecido. Errar e refazer também eram esperados. Eram computados no tempo previsto. Com o GePeEsse, o prazer de descobrir, aprender e ampliar conhecimentos é reduzido ao prazer de descobrir que aquela entidade maior, acima de nossas cabeças e vontades, acertou mais uma vez.
(2009)