UM DIA DE HERÓI
Naquele dia acabei como herói, mas o resultado poderia ter sido catastrófico, trágico.
O carrinho de carneiro - réplica do carro de boi - em tamanho reduzido, para ser puxado por carneiros, era uma das brincadeiras preferidas dos meninos ali na fazenda do nosso avô, aos domingos.
O arreamento, cangas e tiradeiras (estiradeiras), era colocado no carrinho conforme a quantidade de meninos, que, de par em par, segurando cada um em uma ponta da canga, puxavam o carrinho, simulando os carneiros.
A junta do coice, que segura a canga amarrada diretamente no cabeçalho do carro, era a mais disputada, pois essa junta é quem segura o carro nas descidas, dela se exige mais força, coisa que os meninos mais queriam exibir.
A disputa pela posição nem sempre era muito pacífica, no entanto, se resolvia.
Naquele domingo eu peguei a canga do coice do lado esquerdo.
Não me recordo quais os primos estavam comigo; sei que éramos no mínimo seis.
Saímos da fazenda rumo ao Rio do Peixe, passamos pela porteira do alto e logo começamos a descer; entramos na cava funda, lugar em que a descida era mais forte; o carro começou a correr e nós não conseguíamos segurá-lo, ele tendeu para o lado esquerdo, meu lado, e colidiu com violência contra o barranco, eu acabei entre a roda esquerda e o barranco.
Nenhum ferimento, um grande susto.
Os primos fizeram uma grande algazarra, diziam entusiasmados que eu tinha puxado a canga para o lado esquerdo, parando o carro no barranco, que se eu não tivesse feito isso, o carro iria passar por cima de todos.
Não sei se fiz mesmo aquilo, foi tudo tão rápido, mas não deixei de desfrutar daquele meu momento de suposto heroísmo.