UM DIA DE HERÓI

Naquele dia acabei como herói, mas o resultado poderia ter sido catastrófico, trágico.

O carrinho de carneiro - réplica do carro de boi - em tamanho reduzido, para ser puxado por carneiros, era uma das brincadeiras preferidas dos meninos ali na fazenda do nosso avô, aos domingos.

O arreamento, cangas e tiradeiras (estiradeiras), era colocado no carrinho conforme a quantidade de meninos, que, de par em par, segurando cada um em uma ponta da canga, puxavam o carrinho, simulando os carneiros.

A junta do coice, que segura a canga amarrada diretamente no cabeçalho do carro, era a mais disputada, pois essa junta é quem segura o carro nas descidas, dela se exige mais força, coisa que os meninos mais queriam exibir.

A disputa pela posição nem sempre era muito pacífica, no entanto, se resolvia.

Naquele domingo eu peguei a canga do coice do lado esquerdo.

Não me recordo quais os primos estavam comigo; sei que éramos no mínimo seis.

Saímos da fazenda rumo ao Rio do Peixe, passamos pela porteira do alto e logo começamos a descer; entramos na cava funda, lugar em que a descida era mais forte; o carro começou a correr e nós não conseguíamos segurá-lo, ele tendeu para o lado esquerdo, meu lado, e colidiu com violência contra o barranco, eu acabei entre a roda esquerda e o barranco.

Nenhum ferimento, um grande susto.

Os primos fizeram uma grande algazarra, diziam entusiasmados que eu tinha puxado a canga para o lado esquerdo, parando o carro no barranco, que se eu não tivesse feito isso, o carro iria passar por cima de todos.

Não sei se fiz mesmo aquilo, foi tudo tão rápido, mas não deixei de desfrutar daquele meu momento de suposto heroísmo.

JV do Lago
Enviado por JV do Lago em 24/07/2020
Reeditado em 23/11/2023
Código do texto: T7015548
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