O DRAMA DOS RETIRANTES

Flor de Maracujá

Foi - se o tempo donde famílias inteiras viajavam nos chamados 'paus de arara' enfrentando longo caminho cujo destino, quase sempre, tinha o nome São Paulo/SP. Passeio? Não, bom leitor. Busca por trabalho, trabalho honesto que pudesse render 'uns trocos' no final do mês. Também havia pagamento quinzenal. Continuemos.. Levavam na sacola de viagem algumas poucas mudas de roupa, toalha, despertador, travesseiro, lenços, panos de prato, sabonete de bola, etc.. E a farofa? Fiapo de carne seca ou jabá que não estragam depois de guardadas na vasilha de plástico.

A labuta começava cedo, no 'primeiro cantar do galo', como dizem os interioranos mais experientes nessa saga que durou tão somente 70 anos de Brasil/nordeste. Mulheres iam para serviço doméstico (cozinheiras, lavadeiras, babás). Maridos seguiam ao canteiro de obras (pedreiro, servente, mestre). Realidade que se repetia mui das vezes para graça e ternura de quem deseja contar história da vida real. Alguns, moravam ou moram até hoje 'de favor' em casa de parentes/conhecidos 'já' acostumados com as agruras da cidade grande. Buscam, talvez, 'seu lugar ao sol', dentre uma e outra dificuldade, enxergando em cado passo o prazer da nova caminhada. Parte deles nem se lembram ou preferem não lembrar da vida pregressa. Direito de cada um, não é mesmo?! O amor e a dor dividem o mesma imagem de 'como eu era' e 'como eu fiquei' passadas todas ou algumas recordações de momento.

Quantos deles vivem na Paulicéia? Muitos que não sabemos o nome talvez por quê não nos foram apresentados. Os lares guardam o mesmo aspecto daquele que um dia fora tido como 'lar, doce lar'. Do tapete ao pardal de mentirinha pendurado no alto da porta. Se houver espaço, encher de plantas a varanda, como 'boas vindas ao visitante' e, sobretudo, aromatizar o ambiente para os próprios moradores. Pois bem. Nos quatro cantos da cidade havemos de encontrar pessoas diferentes, 'cada qual no seu cada qual' trabalhando ou cantando rumo ao sonho dourado. Para toda boa conversa, existe uma pitada de verdade. O nordestino, forte e capaz, traz a coragem que floresce junto com cores do sertão.

Thiago Valeriano Braga

Thi Braga
Enviado por Thi Braga em 23/07/2020
Reeditado em 23/07/2020
Código do texto: T7014427
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