Gratidão
Nunca fui adepta aos textos de autoajuda. Acho que sou racional demais, um tanto desesperançada. Então, se depender de mim, não acesso esses textos que logo se tornam best-sellers. Mas quem pode ficar imune a eles fazendo parte de grupos do whatsapp? Outro dia recebi um deles e o li até o fim, talvez por ser pequeno e por consideração a quem enviou.
Ele tratava do sentimento de gratidão, e dizia que a neurociência comprava que, ao sentir gratidão, ao indivíduo é vetado qualquer sentimento negativo, seja raiva, inveja, ódio ou tristeza. Assim, basta que sejamos gratos por qualquer coisa e isso nos dará uma sensação de felicidade. Eu até acredito nosso, sim. Só não é muito prático no dia-a-dia, acossados por toda sorte de infortúnios, nos sentirmos gratos para evocarmos a felicidade.
O texto sugere também que, no início ou no final de cada dia, ao invés de rogarmos por sorte e felicidade, que façamos uma lista das coisas pelas quais somos gratos, isso sim. Desde esse dia, fiquei de escrever – para registro – sobre minhas gratidões. Acho que já é hora de fazer justiça a algumas pessoas da minha vida, e também de fazer um balanço das minhas dívidas de gratidão.
Pois bem, sou muito grata pela criação que tive na minha família, não obstante todos os defeitos e problemas ali contidos. Exatamente por causa deles tive oportunidade de aprender a valorizar nossa capacidade de superar obstáculos e nos manter unidos.
Sou mais grata ainda pela liberdade que minha mãe me concedeu conforme eu crescia. Liberdade que alguns momentos eu confundi com desatenção, mas depois me dei conta de sua importância na minha formação.
Sou grata pelas inúmeras oportunidades que tive na vida, sem ter especialmente merecido. Um incidente com outrem que resultou numa vaga de emprego, uma bolsa de estudo disponível,uma viagem oferecida, etc.
Sou grata pela profissão que escolhi, que me proporcionou muito mais do que o ganha-pão. Pude crescer, aprender, ensinar, conviver, contribuir.
Sou grata pela personalidade estabanada, irritada, autoritária e generosa que herdei e construí. Ela me permite viver a vida de forma plena, caindo e levantando, ferindo e ajudando, sorrindo e chorando. Nada pela metade.
Sou grata ao marido, pelo filho que compartilha comigo, pela tolerância e infinita paciência que tem comigo.
Sou grata o meu filho, pelos inúmeros desafios que me apresenta desde que nasceu. Por ele tenho vivido incontáveis situações que enriquecem minha existência. Por causa dele, minha vida jamais deixará de ter sentido.
Sou grata aos amigos, que provocam meus melhores sentimentos, mas também meus ciúmes e minhas mágoas. Por eles tenho aprendido a conviver com esses sentimentos. E isso me faz compreender ainda mais a humanidade.
A consciência da gratidão, de fato, nos faz bem. Não impedirá meus sentimentos ruins, mas os compensará sempre que for invocada.
(27 Agosto 2015)