Menor desacompanhada
Eu adoro assistir filmes e séries e extrair lições dessas obras para meu crescimento pessoal. A arte tem esse poder, dada a sensibilidade de alguns artistas.
Numa das minhas séries preferidas, Grey's Anatomy, no capítulo Menor desacompanhada, acontece um acidente de avião que comove até mesmo os médicos para os quais a morte é um assunto mais tranquilo do que para a maioria de nós.
As famílias dos passageiros vão até o hospital que tinha sido designado para atender os sobreviventes. Mas não havia nenhum, era o que informava uma ligação da equipe de resgate, após um longo período. O que restava aos médicos era dar a notícia triste aos familiares que aguardavam angustiados num salão de espera. E foi o que fizeram de forma organizada e respeitosa. Levaram cada familiar para um lugar reservado e os informaram.
Alguns desses, no entanto, se demoraram no salão depois de serem informados de suas perdas. O suficiente para que ouvissem uma médica procurando pela família Gordon. Havia sim uma sobrevivente, uma menina de doze anos que viajava sozinha, sob a supervisão, apenas, de uma comissária de bordo.
No entanto não tinha ninguém da sua família ainda naquele hospital. Sua mãe estava a caminho, mas demoraria um pouco. E uma senhora que tinha um filho naquele avião se recusa a ir embora. Ela se coloca no lugar daquela mãe que estava a caminho e informa seu marido que quer ficar. Ele consente, dada a convicção de sua esposa.
Outros familiares que também assistem aquela cena emocionante, impulsionados pela força moral daquela senhora que, apesar da sua dor, consegue pensar e amenizar a dor alheia, resolvem ficar também. silenciosamente eles apenas ficam.
Quando chega, então, a mãe da menina, que está agora sendo operada, a senhora que teve a iniciativa nobre de aguardá-la informa que a situação de sua filha e que um médico iria ali em breve para dar mais informações. Aquela mãe preocupada senta-se, o marido da nobre senhora se oferece pra buscar um café. Mas outro pai, cujo filho também veio a falecer, adianta-se e busca o café. É notório que todos ali foram tocadas por uma iniciativa e assim conseguem praticar a arte da empatia. A arte de sair de si, de pensar no próximo antes de pensar em si.
E com um toque refinado de sensibilidade o autor deixa aquele momento da história ainda mais emocionante, aquele momento de coadjuvantes, é bom lembrar. A mãe da menina pergunta a senhora que fez questão de a esperar se ela tinha alguém no avião. Ao que ela responde que sim, seu filho. A mãe da menina pergunta se ele ficaria bem. Ao que aquela senhora responde segurando suas lágrimas que ele ficaria.
Todos olham espantados. Mas compreendem que a intenção era não permitir que uma mãe ficasse triste por ser a única a ter um filho sobrevivente ali. A intenção daquela senhora era nobilíssima.
Uma médica vem buscar a mãe para ver sua filha, e, depois de um abraço apertado na sua benfeitora, ela vai ao encontro de sua menina. Todos saem em silêncio, com toda certeza pessoas melhores com a lição de empatia fantástica que receberam.
Que possamos praticar a arte da empatia, colocando-nos no lugar do próximo. E não o próximo no nosso lugar. Que possamos buscar o melhor em tudo que vemos. Que saibamos fazer o bem em silêncio. E que o prazer dessa prática seja nossa recompensa.