Rede social é cultura

Não vou dizer que esse novo ambiente, onde passamos grande parte da nossa vida, são faculdades. Pois ali não nos tornamos especialistas em uma área do conhecimento. Mas que aprendemos muito com ela, ah, aprendemos.

Seria melhor dizer que Redes Sociais são fontes inesgotáveis de cultura. Fonte diária de aprendizado sobre a alma humana. E ainda que não tenhamos sido originais no título, temos a convicção que nos sairemos melhor na explicação em si. Paciência, meus caros.

Fontes inesgotáveis pois, devido a infinidade de companheiros de jornada que por ali transitam, devido a capacidade quase que infinita do ser humano enxergar as coisas a sua maneira, ainda que rodeado de infinitos pontos de vistas, podemos deduzir que temos uma fonte que se não inesgotável – tudo bem, é um tanto exagerada essa expressão – é com certeza uma fonte que vai demorar muito para secar.

Hoje mesmo vi alguém postando: "Não acredito, perdi minha amiga. Papai do céu a levou. Maldito vírus."

Muito embora o nosso respeito pelas pessoas seja imenso, ainda mais numa situação que tanto atordoa o ser humano, a morte, não poderíamos deixar de observar aqui um texto repleto de contradições. É bem verdade que o fato dele ser ultracurto facilita em muito ele se tornar repleto. Mas enfim, vamos filosofar.

Sim, não queremos aqui falar de religião, uma área tão delicada e particular da experiência humana. Onde vamos encontrar, isso é digno de nota, muitos ateus mais religiosos que nós que nos intitulamos religiosos. Já que se observamos a etimologia dessa expressão, oriunda do latim "religio", "religare", significado voltar à origem ou ao Criador.

Mas podemos falar de filosofia, aquela do sábio grego, Aristóteles, significando amor pela busca do conhecimento. O que somente é possível reconhecendo que não sabemos, que pouco sabemos, ou ainda, como orientava outro sábio grego, Sócrates, que tudo que sabemos é que nada sabemos. Essa é, aliás, a orientação de Buda. Melhor dizendo, essa era para ele um requisito básico para se aprender: reconhecer nossa ignorância, inclusive deixando de lado enquanto analisando um assunto todo ideia pré-concebida.

E do ponto de vista da filosofia, alguém que acredita em Deus - está no texto, papai do céu a levou – pode blasfemar que perdeu alguém que perdeu alguém? Blasfemar soou religioso no sentido não sublime do termo. Vamos reformular. Alguém que concebe a existência de um ser supremo pode afirmar, sem o risco de se contradizer, que a morte é o aniquilamento da alma? Pois perder seria isso. O resto, seria uma separação mais ou menos longa, dependendo do ponto de vista de cada religião.

Outra contradição está no fato de que o filósofo da rede social diz que Deus a levou, mas que o vírus é maldito. Ou seja, amaldiçoa o instrumento, mas absolve quem o maneja. E quem o maneja nesse caso, especificamente, é o Arquiteto Supremo. O senhor da vida e da morte, aquele que tudo sabe, já que chamado de onisciente. Que tudo pode, já que também chamado de onipotente. Segundo o apóstolo Paulo, aquele no qual vivemos e existimos. (Eclesiastes, 17:28). Por analogia, o éter dos antigos filósofos. O oceano quântico de alguns físicos modernos. O Pai Nosso, segundo Jesus.

Muito embora de forma descontraída, no meio de um momento tão conturbado pelo qual passamos, pedimos licença para fazer pensar. Sem nenhuma pretensão de impor ou debochar. Com toda convicção de que nós mesmo nada sabemos. Senão uma única certeza: a de quem o leme do mundo nunca esteve abandonado. E de que essa força supremo, que é o supremo amor, vela por nós.