CAÇADORES DE MONSTROS
Quem nunca se alegrou ao ver alguém cair em contradição? Para alguns, trata-se de momento de êxtase, a oportunidade de negar, ou esquecer momentaneamente, as próprias contradições. Razão, coerência, sensatez parecem cada dia mais raros e caros: artigos de luxo nas prateleiras vazias do atual mercado sócio político brasileiro. Nesse debate, é comum relacionar razão à inteligência. Então, se a medida da razão é a inteligência, o que é inteligência, afinal?
Existem, ao menos, dois tipos de pessoas inteligentes: as que se dedicam à compreensão do mundo e as que têm habilidade para agir. Dos primeiros, costumamos desdenhar, chamando-os de "idealistas", e contra os últimos nos indignamos, xingando-os de "oportunistas". Essas duas condições são conciliáveis? Qual o fiel da balança entre inteligência e mérito?
Apenas o homem tem a capacidade de adquirir conhecimentos e utilizá-los para resolver problemas. E mais, usar o conhecimento para produzir mais conhecimento, influenciar os semelhantes e promover mudanças no mundo. Ou seja, não há contradição necessária entre ideias e atos. O que deve haver é a ponderação no desenvolvimento das potencialidades humanas, pois isso se desdobrará no exercício efetivo dos atributos do homem, do cidadão. Ou seja, é preciso pensar não apenas “no que” aprender ou “no que” fazer, mas principalmente no “para que” aprender e “para que” fazer. É preciso refletir sobre ética.
Qual o projeto de sociedade está sendo construído atualmente no Brasil? Onde uma sociedade pode chegar com uma configuração político-ideológica protagonizada por intelectuais estéreis e ignorantes práticos? Qual a contribuição social concretamente dada por doutores vaidosos, que têm o conhecimento como um bibelô nas vitrines acadêmicas? E quanto aos astuciosos que, por meio de ações inescrupulosas, alcançaram o pico da economia ou da política, o que dizer? O presente contexto é tão grave quanto confuso e isso traz mais perguntas do que respostas...
Lembre-se, finalmente, que a conduta humana é dotada de significado e consequência, logo a junção entre ideias, ações e repercussão é inevitável. Daí a centralidade da ética, pois não importa apenas “o que” se fala ou “o que” se faz, mas a influência que palavras e atos são capazes de exercer. Por isso: "aquele que luta contra monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você." (Friedrich Nietzsche).