A VOLTA DOS QUE NÃO FORAM
Após cerca de três meses de medidas de contenção à Covid19, as atividades estão voltando ao normal em grande parte do Brasil. Esse “voltar ao normal” é um fato interessante que merece uma reflexão.
Não é demais lembrar que o polêmico isolamento social não foi, não é e nem será cumprido amplamente, pois as pessoas que sobrevivem de atividades informais não podem cumprir qualquer confinamento sem comprometer sua subsistência. Ou seja, os informais não têm escolha. Além disso, nem todos os hospitais de campanha ficaram prontos, apesar de tantos milhões de reais fluindo entre contas públicas e privadas. E muitos respiradores foram comprados, mas não foram entregues, equipamentos que são verdadeiros “kits de sobrevivência” na luta contra o vírus.
Outras medidas mais ou menos radicais e inovadoras, como o uso de máscaras e a higienização de locais públicos, não surtiram o efeito esperado: os números continuam alarmantes. E os pobres continuam morrendo no SUS, como sempre morreram... mas os ricos também estão em perigo, sofrendo e morrendo nessa devastadoramente democrática pandemia.
A economia, que já não andava bem, foi fortemente golpeada e vai precisar de longo período de convalescência, ao custo do desemprego, desespero e do suicídio de muitos brasileiros...
Nessa "ruptura" que faz a sociedade voltar ao normal, o contrassenso é a tônica, num ensaio de faz de contas materializado pela relativização virtual de um perigo real, grave e persistente... e assim caminha essa fatia de humanidade chamada Brasil, retornando ao ponto do qual jamais se afastou completamente.
Mas, esse sinistro retorno à normalidade não causa espanto, pois, no Brasil, o "faz de contas" é uma tradicional solução para problemas difíceis... Negar o problema é mais fácil que enfrentá-lo.
Se, um dia, tudo isso virar filme, não será outro o nome, senão “a volta dos que não foram”.
Nesse ambiente de pós-verdade, de "pós-razão", de incertezas, imprevidência e "improvidências", resta o abrigo da fé: que Deus proteja a todos!