BOAS FÉRIAS, PROFESSORES! APROVEITEM!

Aos que têm por muito cara a educação, os impactos da pandemia é um bom parâmetro para avaliarem os custos da ignorância.

Claudio Chaves

kafecomleit@hotmail.com

https://aforcadaideia.blogspot.com

www.facebook.com/claudinho.chandelli

CONTA a lenda que, diante de uma turma de calouros universitários, o professor de Filosofia fez a seguinte provocação: pôs diante da turma uma cadeira e disse-lhes: “Quero que, com argumentos filosóficos, provem-me que esta cadeira não existe”. Ao que lhe respondeu um dos alunos: “Que cadeira, Mestre?”

CONTESTAÇÕES à parte, até o momento, as cidades que alcançaram os melhores resultados no enfrentamento do novo coronavirus foram aquelas em que governos e sociedade conseguiram colocar em segundo plano suas superstições e paixões ideológicas, e, de forma, racional, ponderada, profissional e responsável, seguiram zelosamente as orientações das autoridades sanitárias e das organizações de saúde, incluindo a Organização Mundial (OMS) – uma regra de três proporcionalmente inversa, mas relativamente simples: quanto mais elevada [e mais humanizada] a qualidade da educação do povo, menor os danos causados pela doença.

EM MEIO a inquéritos policiais e discussões congressuais pra se frear a escalada de crimes com o emprego de ferramentas virtuais, a ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves – uma das maiores entusiastas do conhecido núcleo ideológico (chamado também por muitos de núcleo dos lunáticos) –, protagoniza mais uma notícia do gênero. Trata-se do compartilhamento (pela ministra) da [falsa] notícia de que a Dr.ª Raissa Soares havia sido vítima de perseguição política ao ser demitida de um Hospital Estadual na Bahia (Estado governado pelo PT) após pedir ao presidente da República que enviasse mais hidroxicloroquina para o referido hospital.

A MÉDICA gravou um vídeo desmentindo a publicação, e informando que pediu demissão por falta de disponibilidade em sua agenda de trabalho.

A PERGUNTA óbvia e recorrente é: se não há vacina para o vírus, o isolamento social mostrou-se eficaz, governos e empresas se dispuseram a colaborar (não espontaneamente nem de graça, obviamente), e quanto mais demorado for o controle maior a perda de vidas e mais negativamente profundos os impactos econômicos e sociais, por que a resistência em adotar as estratégias que funcionaram, preferindo-se atitudes que apontam para um profundo esvaziamento da empatia, do senso de sobrevivência colaborativa e, ao mesmo tempo, mostram uma marcha rumo a um pré-suicídio coletivo – e tudo isso em um ambiente social de suposta polaridade ideológica que, de tão hostil e insólita, beira ao canibalismo?

DE FATO, chega a ser perturbador!

“QUE CADEIRA?”

EXATAMENTE! Para que os alunos discutissem a inexistência/existência da cadeira, primeiro o professor precisaria provar que havia ali, diante dos alunos, uma cadeira. E alguém pode dizer: “mas isso estava patente; afinal, todos estavam vendo a cadeira, podendo, inclusive, tocá-la caso quisessem”. Realmente. Mas se partirmos dessa premissa (de que a cadeira existia por ser visível e palpável), seremos obrigados a admitir que ar e som, por exemplo, inexistem; porém, sabemos que ambos existem, embora invisíveis e não palpáveis.

VOLTANDO à pergunta retórica “por que, mesmo diante da morte milhares e milhões continuam a desafiar a ciência e a razão em nome de suas crenças e paixões ideológicas?”, uma das respostas mais objetivas pode ser essa: “QUE CADEIRA, MESTRE?”

“PRECISAMOS adotar o isolamento social como a mais eficaz medida, até o momento, contra a pandemia” “QUE PANDEMIA?”

É EMBLEMÁTICO perceber que a mensagem sobreposta à imagem (da médica) afirma que “o PT agora persegue quem está na linha de frente da pandemia”. Apenas mais uma entre tantas afirmações vazias não tratasse de combate à pandemia e não viesse de pessoas cuja principal bandeira de luta no momento é a negação da pandemia e seus efeitos. Chega a ser hilário; mas é bem mais do que isso.

DEFINITIVAMENTE, não estamos diante apenas de um embate entre conservadores versus progressistas ou entre capitalistas versus socialistas ou ainda entre direita e esquerda – a coisa é bem mais grave. Trata-se, grosso modo, da cirúrgica tarefa de distinguir onde termina o que é realidade e o que se tornou fantasia – caminhamos, a passos nada lentos, para um estágio de delírio.

BOAS FÉRIAS, Professores! Aproveitem (se puderem) pra relaxar! Mas não se iludam – aproveitem também para se preparar! O que encontraremos no retorno terá bem pouco (se tiver) de agradável.