Machado de Assis e a Sensualidade

RECENTEMENTE o romance "Memórias Póstumas de Brás Cubas" foi relançado nos Estados Unidos e está fazendo muito sucesso, tanto de crítica como no tocante aos leitores. Realmente o romance é uma obra-prima e inova na arte d romance: um defunto é que narra a sua história. Arretado. Desde à dedicatória o Bruxo de Cosme Velho arrasa: "Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas Memórias Póstumas".

Há na obra de Machado, inclusive nos contos (como Missa do Galo e outros), passando por Dom Casmurro, uma sensualidade incrível, mas sem descambar para os apelos do erotismo vulgar. Em "Memórias Póstumas", essa sensualidade aparece ainda com mais nitidez. Uma prova:

"Via-lhe dali mesmo reclinada no camarote, com os seus magníficos braços nus - os braços que eram meus, só meus - fascinando os olhos de todos, com o vestido soberbo que havia de ter, o colo de leite, os cabelos postos em bandôs, à maneira do tempo, e os brilhantes menos luzidios que os olhos dela. Vi-a assim e doía-me que a vissem outros. Depois , começava a despi-la, a por de lado as jóias e sedas, a despenteá-la com as minhas mãos, sôfregas e lascivas, a torná-la - não se mais bela, se mais natural -, a torná-la minha, somente minha, unicamente minha", BINGO. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 05/07/2020
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