Meu Cavalo Branco
Você chegou lá em casa por volta dos meus seis anos de idade. Diziam que você não era bom, que era trotão, tinha andadura, não sabia marchar. Você era bom sim! Sua índole era excelente, sua força incomparável. Com você aprendi a cavalgar. Você era tão forte, que o arado só parava quando o dono se cansava, você estava lá, pronto para continuar.
Depois, já lá na cidade, na olaria, naquele trabalho maçante, você passava as manhãs inteirinhas fazendo a pipa de barro virar. Não bastava! À tarde lá ia você arrastando carroças pesadas, reabastecendo o barreiro.
Em outras horas, você e eu esquadrinhávamos a cidade levando carroças cheias de tijolos ou lenha. Na volta, eu deitado, dormindo dentro da carroça, você chegava na olaria e parava, esperava eu acordar para te soltar.
Você era tão paciente, tolerou minhas molecagens, meus exibicionismos, meus malabarismos. Você nunca me exigiu corda, cabresto, rédea, nenhum arreamento, sempre e em qualquer lugar você me deixava te montar. Você nunca me fez esperar, nunca me frustrou, nunca me derrubou, nunca me fez chorar.
Chorar?! Sim, você me fez! Foi quando você trocou de dono. Não foi sua culpa e sim do mundo, do mundo que precisa de negócios, de dinheiro, de sustento.
Chorei sim nas primeiras vezes que te vi passar na rua puxando outra carroça, não mais com tijolos ou lenha, mas com latões de leite, e um outro sentando em meu lugar.
Eu sei meu amigo Russo! Sei que você também chorava quando lá passava e via a casa, via as pessoas, via os meus olhos marejados. Sei que o seu maior desejo era poder ali parar.