Meio eu Meio Drummond
Hoje eu acordei meio eu meio Drummond. Cinco e trinta, da janela olho o horizonte e imagino que assim, Adão viu apontar o sol. Drummond era ateu e eu falando em Adão, eu sou cristão. Entre Adão e eu, o sol nunca descansou nem um só minuto.
Sempre pensei que ateu era aquele sujeito já condenado ao inferno. Alguém disse quando Drummond morreu: fique tranquilo Drummond, descanse, pois Deus acredita em você. Despertou-me reflexão.
Oscar Niemeyer se dizia descrente. Disse uma vez, ter visto dentro da casa de sua avó, ela tratar mal uma negra serviçal, por ela estar usando na cabeça um adorno que seria somente para uso de brancos. Ainda menino, entendeu ali, que o mundo era injusto. Tornou-se comunista, viveu cento e dois anos oferecendo perigo. Implantou uma ditadura de obras fantásticas. Proclamo: descanse Oscar, Deus acreditou naquele menino.
Não sei o que houve, sou cristão. Perambulo em pensamentos de como seria não crer. Caso alguém me provasse por a mais b, que o Evangelho é invencionice e que Cristo não existiu; nada mudaria, está tatuado no meu ser.
Penso que Deus acreditou em mim, mas tenho que cumprir o meu tempo, vendo e sentido os desagrados da vida. São tantos cristos entrelaçados com Herodeses, tantas ovelhas dadas ao abate.
Assim estou, meio eu meio Drummond; dele, tenho poemas, de mim, melancolia.