Inominável (27.05.2020)
Apenas um desabafo, pra quem quiser ler... Quem não quiser, vão catar o que fazer, então.
Não sei explicar... É angustiante não dançar mais, espaço pequeno por escolha e não espero que ninguém entenda. O coração acelera só de ver os vídeos, as mãos e os pés ficam frios como se do nada eu fosse transportada para o momento exato em que aquele vídeo estava sendo gravado e eu...
Bom, eu, na verdade, estava dentro da coxia esperando... E não aqui sentada como público...
Saudade de sentir a música com o corpo e colocar pra fora. Gente que chora vendo apresentações antigas? Sim, essa sou eu!
Sinto saudade de dançar e isso dói!
O palco que me aguarde, minha dança parece estar encubada em mim e tenho muito medo de não conseguir fazer com que ela saia depois... Depois de tudo isso... Depois de toda essa porcaria...
A humanidade se destrói e quem paga somos nós, as pessoas sensíveis. Eu quero minha dança de volta! Quero o desespero da faculdade de volta! Quero poder andar na rua e, em um lampejo, começar a dançar na faixa de pedestre!
Mas o que estou tendo no momento não é nada disso, sinto falta da dança. Sinto que ela está em mim e realmente espero que esteja, porque sem ela uma grande parte do que eu sou iria embora e nunca ninguém mais me reconheceria. Ninguém nem eu mesma...
Nada no mundo pra conseguir dizer o que passa na minha cabeça naquele diazinho que não alongo ou que não faço exercícios de fortalecimento ou o que quer que seja. Minha cabeça está com todos os canais ligados ao mesmo tempo e literalmente choro ao escrever isso (claro, depois de assistir a mais apresentações, o que vocês esperavam?).
Dança, pra mim, é muito mais do que expressão, arte, cultura, alma, coração... Dança pra mim é um adjetivo que não tem nome! Pra mim, dança é a vontade de esgarçar os músculos no alongamento, mas ao mesmo tempo o freio pois isso não seria de todo legal se feito tendo como combustível a raiva que sinto dessa doença miserável!
Estive relendo meus sonhos antigos e em vários deles me sonho dançando, minha primeira ponta, conseguir girar com ela, as poses alongadas... E hoje sonho somente no dia que vou poder rever todos, rever seus dançares e poder soltar isso que está se encubando dentro de mim desde aquela terça-feira maldita!
É como aquelas caras que fazemos ao dançar um estilo livre ou fazer uma improvisação... A música entrando no sangue, é o relembrar das sequências até hoje, mesmo tendo passado 3 anos desde a primeira vez que senti o palco sob meus pés, já depois de mais velha. É aquela vontade de girar pela sala de baby class mesmo quando a professora da época dizia que não era para girar ainda (isso nunca entendi)...
Meu dançar está adormecido, mas minha vontade não... Está mais do que nunca à flor da pele e nunca pensei que pudesse sentir esse amor ardente por uma coisa que, digamos, é abstrata. Já que não podemos pegar na dança, somente vê-la e senti-la...
O desânimo de perder alongamento, de não poder fazer aulas... De não poder dançar... É inominável! Sinto como se a sala das aulas não fosse mais me caber quando (ou se...) tudo voltar ao normal... Sinto vontade de correr para um espaço aberto e dançar com a música da minha própria cabeça...
Dançar o mais rápido possível para que nada me pegue...
Dançar o mais rápido possível...
Dançar o mais...
Dançar...
Dançar... Por favor!
Minha saudade da dança, minha vontade de dançar... Inominável!
Paulia Barreto de Sousa