Superando a Covid-19

Ontem à noite fiquei triste e, ao mesmo tempo, fiquei feliz. Uma talentosa e culta escritora daqui de Charqueadas postou que havia contraído a Covid-19, mas que já estava curada. Ela atualizou sua foto de perfil no Facebook, com a frase "Eu venci o Covid 19". Logo, fiquei triste em saber que ela esteve doente e também feliz por saber no mesmo momento que saiu dessa.

Assim, o sol nasceu mais bonito hoje, pois ela superou a doença e isso me deixou feliz, assim como fiquei triste, dias atrás, ao tomar conhecimento da morte de uma pessoa em minha cidade vítima do mesmo mal, fazendo o astro rei surgir nu num sábado posterior ao Dia dos Namorados - como tem acontecido em razão desses milhares de óbitos, todos os dias. Como aqui em Charqueadas quase todo mundo se conhece ou conhece alguém que conhece ou já viu a pessoa por aí, eu lembrei de quem era o homem de 42 anos, sabia de seus parentes e o vira numa tarde ensolarada de março no CEU Jorge AFre Rodrigues, lá na Cohab - atual Bairro Sul América -, vendendo cachorro quente para ganhar o seu pão. A literata que se recuperou e alegrou meu dia hoje tem 54 anos.

Sei que a Covid tem uma taxa de letalidade real no Brasil entre 0.8% a 1.2% (*), conforme a região do país, devido a características demográficas e sócio-econômicas, mas sei também que ninguém, independente da idade, está 100% livre. A coisa começa a complicar, pelas estatísticas e estudos da medicina e da epidemiologia, a partir dos 50 anos, principalmente depois dos 60 e para aqueles dos chamados grupos de risco. Então é uma roleta russa com cem balas, onde uma é a fatal e pode vitimar até quem menos se espera. Cem pessoas, cem vidas que, em nossa cidade e região, são cem conhecidos, colegas, amigos, familiares, a gente mesmo e outros seres humanos iguais a gente, todos eles, independente da crença religiosa, política ou filosófica, e todos correndo o mesmo risco. A única defesa é evitar, é cuidar-se para não deixar o vírus que a provoca se espalhar e fazer a roleta maldita girar nas cidades daqui da Carbonífera.

Essa imagem acima é de um vitral da Basílica do Divino Pai Eterno, que fica em Trindade, Goiás. Nunca fui lá, o vi pela TV. Ele representa, para mim, à perfeição, duas coisas, que faço questão de repetir aqui no Portal: primeiro, que a ciência e a tecnologia são dons divinos da inteligência humana, oriundos do sopro da vida; segundo, que Deus age nesse mundo via nós mesmos, uns pelos outros, e que o trabalho dos profissionais da Saúde é bendito, é o milagre e a obra Dele sendo concretizados no cotidiano. E nós devemos ajudar esses profissionais, cuidando-nos para não pegar a doença e para não espalhar o vírus, afim de não os sobrecarregar e colocar em risco suas vidas no exercício de tão nobre e útil atividade profissional. Aliás, médicos, enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem, motoristas de ambuância, porteiros e vigias de hospital, pessoal da limpeza e gestores ganham muito pouco pela extrema importância social de sua função e pelo risco que correm, principalmente os que atuam pelo SUS, atendendo o povo pobre, o grupo social mais vulnerável hoje e sempre nessa pátria tão desigual. Esses trablhadores devem ter salários e direitos trabalhistas e previdenciários condizentes com a imprescindibilidade de sua labuta, a última fronteira entre a continuidade da vida e a morte física.

Era isso que eu queria dizer, hoje. Espero ter sido útil de alguma forma nesse momento, ao manifestar-me motivado pela alegria de ver uma pessoa que eu respeito e admiro ter superado esse drama que nos é comum. Fiquem em casa, fiquem com Deus, seguindo as orientações da ciência.




(*) - Conforme o doutor em microbiologia Átila Iamarino e o doutor em epidemiologia Wanderson Oliveira, referindo-se a estudos epidemiológicos recentes sobre a pandemia no Brasil, indices relativos a uma situação onde não há colapso do sistema de saúde.

Texto publicado no site do jornal Portal de Notícias: https://www.portaldenoticias.com.br/colunista/53/cronicas-artigos-joao-adolfo-guerreiro/