Forças ocultas...?

Gosto dessa fruta desde menino. Uma de suas virtudes é levar mais tempo para ser mastigada, se comparada à maciez desgastante e até desapontadora da maçã e da pera...E tem gente que tenta me convencer que o mesmo não é fruta propriamente, mas para cozinhar...

Na infância e juventude lembro-me que o seu fornecedor, de porta em porta, era o Vicente Celestino, com seu balaio, chegado da Onça, a coisa de duas léguas de Pitangui. Não tinha contudo nada de ébrio ou trágico, o miúdo Celestino da Onça, ainda que seu pregão fosse bem sonoro, anunciando um apenas gengival ..." ói o maimeeélo...!

Décadas depois pude realimentar a velha paixão com os membrillos, quinces, cotogni e coings na Europa e no Canadá, que aparentemente se importavam do Oriente Médio mas, curiosamente, de forma mais moderada, sem aquela voracidade infanto-juvenil. Talvez porque a oferta do produto fosse mais regular. O porque faltasse o doce pregão de Vicente...?

De retorno à Mãe Gentil constato, com certo pesar, que o produto sumiu. Dos pomares às super centrais de abastecimento, neca de marmelo...e há frutarias reluzentes em que os proprietários quando muito, dizem que conhecem sim, mas..."tô sem..."

E nesta manhã de Santo Antônio das noivas, das promessas e das fogueiras, eis que, pela vez primeira, no requintado Verdemar eis que diviso na prateleira, empilhadinho o velho favorito do paladar, amarelinho, a me saudar...e quase a implorar para ser levado...

Reaceso o gosto, logo o empana o desgosto: 27,99 ao quilo...e a memória de Jânio, louco manso comparado ao que temos visto por aí desde então, é que me resgata a sensatez: qui-lo, mas não fi-lo...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 13/06/2020
Reeditado em 13/06/2020
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