BELO ADORMECIDO

Já é fim de tarde “no Alegre”. O céu, pelas mãos do criador, se pinta lá ao fundo em um tom de laranja, anunciando uma noite fresca. Na aquarela celeste também vejo as primeiras estrelas despontando e a silhueta da lua começando a se corar. Nesse embalo do entardecer, soberbo apanho meus trajes de esportista amador, me apronto e desço do alto do morro ganhando o centro da cidade. Estou a caminho mais uma vez do gastar de energias lá no Parque de Exposições.

O crepúsculo logo dá lugar à escuridão da noite. Começo minhas atividades por caminhadas e corridas alternadas pela arquibancada em forma de ferradura. Lá embaixo, tomado por uma determinação costumaz, incorporo na alma o sentimento competitivo de um atleta de alto nível e galopeio em um “50 metros rasos” inventado na minha cachola. Faço isso pelas quatro últimas carreiras da arquibancada. Ao fim, dou uma caminhada para aliviar o cansaço e deixar descer o suor. Confraternizo com essa realização cumprimentando os rostos já conhecidos da vida agitada de exercitamento pela noite alegrense.

Após andejar por pouco tempo, chego à parte superior do local novamente, mas me aposso da zona da barra fixa. Lá realizo com persistência o exercício de várias formas distintas. Experiências obtidas de minha espionagem focada nos aventureiros de plantão naquela barra de metal. Algumas vezes solidarizo o espaço com companheiros de atividades físicas e na alternância aproveito para me esbaldar nas flexões de braço em três apoios diferentes. Minha carcaça já beira o limite, mas ainda restam algumas séries a completar na barra.

Após todo esse ritual vou perambular por toda extensão do Parque de Exposições em um bater de pernas tranquilo, observando o movimento noturno. Faço isso por longos minutos e alcanço a pequena quadra, já desgastada pelos esportes ali práticos, na qual se reúnem alguns amigos já conhecidos do futebol. Separamos as equipes por equilíbrio de habilidade. Resmungo com alguém que talvez eu não consiga me entregar ao máximo no jogo devido estar atingindo meu limite de esgotamento. Após um papo rápido, desvencilho-me daquele apego sem garra e me energizo com apoio da adrenalina para pouco mais de uma hora de futebol.

No retorno para casa, pelas ruas já vazias, sigo solitário na modalidade cooper. Ganho a ladeira e, lá perto do cemitério, adentro o prédio amarelo com satisfação do dever cumprido. Jogo uma água demorada sobre o corpo – preguiçoso me esfrego – relaxando todo meu aparato físico já na reserva. Apenas visto a roupa de dormir, escovo os dentes e dou uma arrumada paupérrima no cabelo apenas para não ficar tão estrambelhado no dia de amanhã. São aproximadamente oito e meia da noite. Deito-me e apago em um sono tranquilo, parecendo infinito de tão gostoso.

Não lembro bem, mas tenho a impressão de que não coube nem lugar a qualquer vestígio de sonho atrevido no meio daquela exaustão física que dominava meu corpo. Com um beijo sutil do sol, já pela alvorada, despertei-me do deleite com a bateria já recarregada para o próximo desafio no Parque de Exposições.