Peguei a garrafa de suco de laranja da geladeira porque era a que estava mais à mão. A de suco de uva estava lá embaixo na última repartição da porta, e o de abacaxi, certamente o mais fake, apesar da marca, se escondia parcialmente atrás do pote de doce de leite, e, em cima deste, por pura desorganização, é o que é, havia meio repolho, embrulhado no mesmo plástico que veio do mercado. Virei querendo saber onde estaria algum copo. Às vezes penso que, por morar sozinho, deveria fazer como muita gente faz, beber direto da saída. Mas, franca e sinceramente – Olá, Sônia Abrão! –, não acho que isso seja uma coisa bonita de se fazer, mesmo tendo certeza de que ninguém com sede, ainda mais neste período de social distancing, vá vir aqui em casa. Morar sozinho, deixa eu falar antes que me esqueça, é tudo! Agora, por exemplo, estou bem à vontade. Não muito, mas um bom tanto, e se quisesse estaria totalmente.
O mais próximo do meu alcance, comprado com apenas um real, na Loja de Um Real, enquanto que é bem mais caro em outras lojas, estava ao lado do monitor do desktop. Destampei o suco e, ao levar a garrafa à boca do copo, vi que lá dentro tinha uma leve camada de vinho. (Era vinho, sim. Não era do suco de uva. Eu agora tô bebendo vinho. Ouvi dizer que quem toma vinho não morre fácil. Não quero ser fácil de morrer.) Rapidamente previ o resultado da mistura dos primeiros pingos alaranjados com o restinho bordô: uma cor que, pra mim, não teve nome. (Depois vou olhar no Google.) Mas achei bonita. Com a mesma rapidez, me perguntei: e o gosto? É. E o gosto? A garrafa de repente pairou sobre o copo, super-indecisa, mega-indecisa. Ah, não faz mal, respondi, querendo dizer que não importava, que tudo bem. Mas, um segundo depois, senti que precisava ouvir a resposta de novo. Não faz mal. Pra testar, pra ver como ficava, experimentei dar uma resposta contrária. Faz mal, sim. Nossa! “Faz mal, sim” não é o mesmo que “Não importa”, que “Tudo bem”. Ave Maria! Peguei o copo com determinação, quatro passos até a pia da cozinha, e o afoguei em detergente e água.
Em seguida, pronto! Tomei o suco.
O mais próximo do meu alcance, comprado com apenas um real, na Loja de Um Real, enquanto que é bem mais caro em outras lojas, estava ao lado do monitor do desktop. Destampei o suco e, ao levar a garrafa à boca do copo, vi que lá dentro tinha uma leve camada de vinho. (Era vinho, sim. Não era do suco de uva. Eu agora tô bebendo vinho. Ouvi dizer que quem toma vinho não morre fácil. Não quero ser fácil de morrer.) Rapidamente previ o resultado da mistura dos primeiros pingos alaranjados com o restinho bordô: uma cor que, pra mim, não teve nome. (Depois vou olhar no Google.) Mas achei bonita. Com a mesma rapidez, me perguntei: e o gosto? É. E o gosto? A garrafa de repente pairou sobre o copo, super-indecisa, mega-indecisa. Ah, não faz mal, respondi, querendo dizer que não importava, que tudo bem. Mas, um segundo depois, senti que precisava ouvir a resposta de novo. Não faz mal. Pra testar, pra ver como ficava, experimentei dar uma resposta contrária. Faz mal, sim. Nossa! “Faz mal, sim” não é o mesmo que “Não importa”, que “Tudo bem”. Ave Maria! Peguei o copo com determinação, quatro passos até a pia da cozinha, e o afoguei em detergente e água.
Em seguida, pronto! Tomei o suco.