Sábios e estúpidos. Evocando Sócrates.
Sócrates - refiro-me ao filósofo da Grécia antiga, mestre de Platão, e não ao jogador do Corinthians - achava-se um ignorantão de primeira. E vivia feliz com tal certeza. Mas um dia resolveu, sabe-se lá porque cargas d'água, consultar o Oráculo de Delfos. E danou-se. Nunca mais viveu em paz consigo mesmo. O Oráculo disse-lhe que ele, Sócrates, era o homem mais sábio da Grécia. E um demônio cochichou ao ouvido de Sócrates: "Conheça-te a ti mesmo." Não sei se este evento sucedeu àquele, ou se o antecedeu - mas esse detalhe é irrevelante. Deixemo-lo pra lá. E Sócrates, coitado! atormentava-se, todo santo dia, com o seguinte solilóquio: "Eu não sou ignorante, não? Eu sou ignorante, o mais ignorante dos homens. Mas o Oráculo disse-me que eu sou o mais sábio dos homens. E agora? Está errado o Oráculo? Não é possível, afinal ele nunca erra. Ele é infalível. Já sei o que vou fazer. Vou conversar com os mais sábios homens da Grécia, para provar que o Oráculo está errado. Mas o Oráculo não erra. Que diabos! Em que inferno dantesco entrei. Que Jesus Cristo me ilumine." Diz a lenda que Sócrates jamais pronunciou a palavra "dantesco" e nunca citou o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo. Se procede tais afirmações, não sei. Deixemos tal controvérsia para outra ocasião. Decidido, então, a tirar a prova dos nove da questão que tanto o atormentava, foi Sócrates as praças da Grécia, e nelas manteve longas conversas com os sábios, os mestres, os doutores, os gregos mais renomados, seres carregados de títulos e honrarias. E para sua surpresa, Sócrates descobriu que todos eles eram uns paspalhos, uns tolos, que mal sabiam os significados das palavras que usavam, e muitos nem sequer entendiam o que diziam. E tais autoridades, tais doutores, gente vaidosa de seus títulos, de seus diplomas, resolveram dar um fim àquele homem feio pra dedéu que lhes expôs a ignorância ao público. E assim, escreve Platão na sua apologia ao seu mestre, condenam os poderosos da Grécia Sócrates à morte. E o mais sábios dos homens, que só foi um sábio porque, tendo-se na conta de ignorante, buscou conhecer-se a si nesmo, foi obrigado a beber cicuta. E Sócrates partiu desta para a melhor.
A história de Sócrates é emblemática: Nomes de famíla importante, títulos e diplomas não fazem sábio um homem estúpido; e as autoridades, os doutores, os mestres, vaidosos e arrogantes, seres que vivem de aparências, odeiam os sábios. Era assim na época de Sócrates; é assim hoje. É assim desde que o mundo é mundo. Nada há de novo sob o sol.