CONSTRUÇÃO DO SER

Ontem à noite, em uma franca conversa com minha mente sob o chuveiro e ensaboando minha estrutura corporal nada em forma, uma vaga ideia sobre a crônica de hoje foi se construindo, baseado em um tema da inspiração. Lógico, o cérebro perambulou pelas lembranças mais remotas, buscando respostas sobre o que tem feito eu e meus irmãos sermos pessoas solidárias e mais humanas. Esse realmente foi um assunto que se concretizou em alguns neurônios e as memórias de alguns gestos vou expor abaixo.

Relembro mais uma vez, como é recorrente, da casinha lá no Pito, das gentes humildes que passavam de porta em porta pedindo “pão velho”. Apesar de eu ainda não ser crescidinho, observava os gestos de meus pais no atendimento àquelas pessoas que diariamente transitavam pela rua. Ninguém precisa ser sociólogo para compreender as nuances do acolhimento social, seus benefícios e desafios. Um pão já “dormido” nutria um sentimento de esperança para aquelas pessoas ainda jovens.

Em outro momento, não me recordo bem o tipo de ação, mas de forma voluntária aos fins de semana, já tendo realizado visitas anteriores pelas casinhas que se estendiam pelas ruelas do “Satírio”, todos lá em casa tínhamos a missão de levar algum divertimento para essa gente simples. Nos reuníamos no terreno da antiga “Casa da Criança” para um momento de lazer e descontração de quase uma tarde toda jogando bola, brincando de pique e muitas outras coisas. Esse contato íntimo entre dois mundos distintos foi se acumulando ao meu ser em formação.

Enquanto estávamos crescendo e em plena evolução do ser, mais desafios eram impostos para a gente e os contatos já eram mais constantes com a comunidade do “Satírio” e já do “Morro do Querosene”, mais recentemente incluído ao nosso rol de vivências. A nossa realidade agora já dominava uma mistura de ares, culturas e raças. Um convívio salutar sempre foi celebrado nessa união – que alguns diriam improvável – que transcende os limites da alma humana.

Acredito fielmente que essas ações durante nosso crescimento foram cruciais para nos transformar em “cidadãos de bem”. Aqui não tem preconceito, não tem vergonha, não tem opressão, não tem ofensa. Só seguimos o que deveria ser a lógica natural das relações humanas e é disso que precisamos para avançar progressivamente na melhoria da nossa sociedade. Um agradecimento especial aos nossos pais que nos incluíram nessa jornada do “fazer o bem”.

(JOÃO PAULO FERNANDES ZORZANELLI)