A VER NAVIOS
É cedo, 6 horas da manhã. Levanto-me durante o alvorecer, enquanto o sol nasce em algum ponto do distante do mar. Avanço até a janela, no último andar do prédio, na região central de Vitória e, involuntariamente, inicio uma “caça” a acontecimentos para transcrever a uma próxima crônica. De fato, encontro e são muitos detalhes em movimento nesse início de semana.
A Baía de Vitória amanheceu agitada nesta segunda-feira pela passagem de veículos, por vezes resultando em longos engarrafamentos na Beira-Mar ou então aos inúmeros pedestres que cruzam a larga avenida de um lado para outro buscando dar continuidade ao exercício de cidadãos, cada qual com seu trabalho digno. Os desportistas da manhã lotam o calçadão à beira, procurando manter uma vida saudável frente à rotina estressante do dia-a-dia.
Outro trânsito, não menos evidente, é aquele que persiste nas águas da Baía de Vitória. Lá vejo cuidadosos e esforçados atletas do remo desgastando seus braços ágeis, pouco franzinos, à procura de manter o ritmo adequado e preciso para disputarem com maior competitividade os diversos campeonatos os quais participam. Seguem eles desde o Porto de Vitória e os vejo sumir por detrás da beleza inconfundível do Penedo.
Outro tráfego que logo me chama atenção é o das barcaças cortando a Baía de uma margem a outra. É o percurso que diversos trabalhadores realizam ao longo do dia fugindo do trânsito terrestre entre Vitória e Vila Velha. Muita gente vem trabalhar na Ilha de Vitória, retornando à tardinha. Alguns pequenos barcos são movidos simplesmente pela força humana. São homens fortes de braços geralmente robustos já acostumados a fazer este tipo de atividade. Outras barcaças já são mais modernas e se utilizam de um motor dois tempos, dispensando qualquer serviço braçal. Não importa a espécie, elas são parte do movimento infrene da metrópole ao longo do dia.
Porém, o mais intrigante que observei neste dia de pleno trabalho citadino foi uma novidade para mim, mas aos moradores de longos anos dessas redondezas já é velho conhecido. Os dois rebocadores vinham à frente, enquanto um imenso navio repleto de containers marchava pelas águas da Baía. A baliza foi se revelando ao passo que os dois rebocadores sincronizavam seus movimentos e potência. O navio parou paralelamente à linha do cais e os rebocadores se encontraram ao mesmo tempo, um em cada extremidade, no casco da embarcação. E lá os dois pequenos astros da via marítima vão empurrando o gigante navio contra o desembarcadouro em Vila Velha. Minutos depois, a baliza é completada com sucesso e homens de macacões alaranjados fluorescentes já são vistos caminhando pelo corpo da embarcação, conferindo se está tudo dentro dos padrões. Logo, os guindastes são acionados e os containers vão sendo despachados às numerosas carretas presentes no pátio lá do outro lado da ilha. Os rebocadores? Foram ao lado de fora da Baía, já no limite com o oceano, guiarem mais uma grande embarcação.
Outros atrativos do trânsito na hidrovia são lanchas fiscalizadoras, parecem uma formiga quando estão se deslocando bem próximas aos navios de grande porte. Modestos barcos de pesca também são avistados saindo mar afora em busca dos peixes frescos do ambiente marinho. Jet-skis são raros, ao menos ao longo da semana, mas ainda sim observo suas manobras ousadas algumas vezes.
Agora é um navio que está de saída do cais. Está realizando um movimento conhecido no sentido-horário na intenção de posicionar a proa na direção da saída da Baía de Vitória, a caminho da imensidão do mar mais uma vez. E lá vai ele se despedindo lentamente dos portuários com sua estrondosa buzina. Os rebocadores também o acompanham até o fim da baía e, certamente, lá no grandioso mar muitos navios aguardam para adentrar ao canal da enseada.
Pela noite o movimento continua, mas do lado de cá da Baía – na Ilha de Santa Maria da Vitória – onde operários dão prosseguimento à ampliação do porto de Vitória. E mais navios serão avistados ou admirados por sua beleza, tanto aqui como lá em Vila Velha das janelas de apartamentos, casas e comércios.