Meu encontro com Ariano Suassuna!
Levantei-me para comer algo leve e fazer "Pilates", em função de uma bendita dor nas costas que me acompanha, insistentemente, há uns 3 anos.
Olhando o FACEBOOK... vi um post engraçadíssimo de Ariano Suassuna, presente de um amigo querido, dos tempos do curso de Economia da UFPE (Recife)... o Vladimir Lima!
Então... lembrei-me do primeiro e único encontro que tive com o genial escritor: foi no apartamento de um tio de minha saudosa mãe, João Suassuna de Melo Sobrinho.
Tio João Suassuna, irmão de meu avô materno, saiu da sua pequenina Pio IX (PI) e foi brilhar em Pernambuco, como intelectual, educador e escritor de grande prestígio. Tornou-se amigo, parceiro e interlocutor de vários artistas e escritores de sua geração, dos quais lembro: Sivuca (sanfoneiro e instrumentista dos bons), Ariano Suassuna (um dos maiores escritores deste país), além do escritor-contista-matemático Júlio César de Mello e Sousa, conhecidíssimo pelo pseudônimo "Malba Tahan".
Com Ariano, o tratamento que se davam era "primos". Confesso não saber se tinham mesmo algum parentesco ou se o sobrenome e as afinidades pessoais, os levavam aos afagos costumeiros. Cada encontro entre ambos era verdadeira festa, em animadas conversas de elevado nível.
Voltando à narrativa, lá no encontro com Ariano Suassuna, naquele instante, não valorizei o que presenciei. INFELIZMENTE!
Além da pouca idade (por volta dos 17), não sabia quem era aquele simpático e falante amigo de meu tio... muito menos que estava diante de genial escritor, palestrante, conferencista, etc... Autor de inúmeros textos maravilhosos, albergados no panteão da literatura brasileira.
O mais conhecido deles... "O Auto da Compadecida", foi transformado em peça de teatro e no filme brasileiro mais reverenciado nos últimos 20 anos... ganhador de vários prêmios em terras brasilis e no exterior.
O rubro-negro Ariano (apaixonadíssimo pelo Sport Club do Recife) tinha uma particularidade interessante: era dono de um humor fino e cáustico, capaz de divertir e manter acesa qualquer plateia de estudante ou de intelectuais. A crítica que fez sobre a "preferência nacional da banda Calypso" é antológica. Destaco, ainda, célebre entrevista concedida a Jô Soares... verdadeira aula de brasilidade e inteligência!
Esse humor mordaz e inteligente é presente em seus textos mais conhecidos... aliás, extarordinários e inconfundíveis, pelo estilo único.
Atualmente, é uma das minhas referências literárias e o coloco no mesmo patamar de outros monstruosos escritores nordestinos, da estirpe da cearense Rachel de Queiroz, do baiano Jorge Amado ou do alagoano Graciliano Ramos.
Do encontro no apartamento de meu tio, lembro vagamente que Ariano conversava e contava muitos "causos"... e dava muitas gargalhadas.
Meu tio, mais reservado, sorria contido... às vezes, gargalhava a valer. Hoje, lá no "Alto do Céu"... Ariano e João Suassuna devem "bater um bolão"... divertindo-se sobre coisas pitorescas que veem na terra.
À guisa de informação, tio João Suassuna elaborou projetos para implantação de várias faculdades em Pernambuco, Ceará e Piauí... aqui, em Teresina, juntamente com o professor Chico Gabriel (de Floriano), foi idealizador do CESVALE, primeira IES privada do Piauí, criada em 1985.
Tio João me deu o primeiro livro que ganhei na vida: O Pequeno Príncipe, de Saint Exupéry. Foi, também, quem me despertou a paixão pela sala de aula. Devo exclusivamente a ele!!!
Além de dentista, professor, intelectual, consultor educacional... era um boêmio inveterado: eterno apaixonado pelas mulheres!
Antônio Rodrigues de Carvalho Neto
Crônica reeditada (2018)