AO ANDAR DE DUAS ALMAS
Viver a dois, ou a duas, faz experimentar quitutes únicos, que vão das texturas infinitas do querer-bem à ferida dilacerante do desprezo. Quem mergulha nessa tina aprende a traduzir com maestria os cantos ásperos da agonia, mesclando-os com a fugaz asa da paixão, muitas vezes entorpecida pelo colo avesso da rotina. Caminhar em alguma trilha com quatro pés traz no seu cangote certos suores curiosos que destronam regras e princípios numa melodia bizarra. Faz alforriar câimbras que o corpo dá abrigo, sacudindo seus guizos tantos até não aguentar mais. Quem se embrenha nessa dupla jornada traz à tona o sentido mais hemorrágico das certezas e das dúvidas, arrematados pelo vão agudo da fé com todas suas alegorias. No final desse jogo, quando tudo se disser feito, sarado e devidamente ancorado, o que restarão serão as certezas robustas de que valeu a pena pisar naquele chão, por mais armadilhas que tenha alinhavado. Que foi grata cada pétala ungida nesse banquete absoluto e que, sobretudo, foi abençoado dedilhar cada grão daquela melodia maravilhosa proporcionada pelo andar singular de duas almas.