ABATE TRIUNFAL
Queria dizer do amor de dois iguais, de dois opostos, de dois quaisquer. Queria me recostar nesse amor sem eco, sem rastro, sem guarita. Amor desnudo, de alma alforriada, de fruto pronto pra dentada, pro abate triunfal. Amor que dispensa rima, dispensa leme, dispensa cuspe.
Amor de rama forte, de cheiro desfarpado, de sangue coalhado.
Amor alvissareiro, sorridente, lindo. Nesse amor esvaem meus medos, esvoaçam meus engasgos, refoga a minha solidão. Mas, cadê esse tal de amor, cadê suas asas, seus ventos, sua voz? Já se fez amor sacudido, desmiolado, aguerrido, domado. Já se fez amor prostrado, alforriado, torto, absorto. Já se disse amor perene, desafinado, vencido. Mas, cadê seus versos, sua tez, seu ternura? Então, capengando, fui à cata dele, estivesse onde fosse. E daí me vi num solene rufião, cabisbaixando minha voracidade atroz, meus pedregulhos faiscados desse amor poente, desse pleito jagunço, dessa ladainha tresloucada. Então recebi o amor devido, na robustez dos meus percalços, na afugentada rabugice da minha fé. Daí fui dormir, com o corpo abençoado e a vida vingada, por mim, por fim, por sim.