Em Tempos de Confinamento XXVIII - Vizinhos
Na quarentena há também oportunidades de relacionamentos diferentes e diversos com vizinhos, e mesmo oportunidades de novos relacionamentos.
Aqui, no meu caso particular, não tenho mais os encontros no elevador e na academia do playground. E nem na portaria ou na garagem. Esvaneceram-se esses contatos com meus vizinhos de edifício. Em contrapartida outras ocasiões que não se davam antes do confinamento passam a se fazer presentes.
Temos vizinhos em outros prédios, na mesma calçada, do outro lado da rua, que quase nunca nem notávamos a presença. Pela situação de estarmos em casa o tempo todo, também os vizinhos, há mais possibilidades de contato, seja ele apenas visual num primeiro momento ou pelo sentido da audição.
O meu vizinho do prédio em frente, por exemplo, de uma família com crianças pequenas, e a quem eu nunca tinha visto, agora é frequente estarmos no mesmo campo visual em vários instantes. Outro dia, quando eu ouvia uma música num volume mais alto e tentava acompanhar com meu violão, ouvi umas palmas. Olhei para o outro lado da rua e vi o vizinho aplaudindo e gritando que gostara muito. Acenei em agradecimento.
Desde então, cada vez que nos vemos, e isto é tão frequente quanto diário, nos cumprimentamos a distância e, não raro, até brindamos quando estamos, cada um, com a sua taça de vinho, copo de cerveja ou algum drink qualquer. Já estamos a nos procuramos visualmente para a saudação do dia, como se fôssemos conhecidos de velha data e até arriscar um “tudo bem?” ou um “isso vai passar”.
Há uma outra vizinha, em algum prédio que eu não sei precisar qual e que, não sei por que, sempre está aos berros com seus familiares por conta das atividades cotidianas de um lar. Já sei o nome dos seus filhos e do seu marido, o horário das refeições e quem gosta de ovo ou de um suco feito na hora.
Outro vizinho, de um outro lado, está a aprender a tocar saxofone. Ele já estava nessa aprendizagem antes da quarentena, a bem da verdade. Mas com o confinamento suas práticas são agora mais frequentes. E também parece que não tem tido aulas com o seu professor, por motivos óbvios. E, também-também, eu estou sempre em casa na hora em que ele exercita os pulmões ao soprar a boquilha do instrumento. Sempre. Alguém sabe o que é ter um vizinho aprendiz de saxofonista?