Esse confinamento deixou teu pai de miolo mole!

Em tempos de confinamento social, cada um reage a sua maneira. É claro que as perdas são grandes, em todos os sentidos. "Nunca mais seremos os mesmos"... ouço todos os dias

Nesse cenário pândemico, passei a fazer balanço da minha vida... um dia após o outro. Isso tem me possibilitado reviver momentos importantes, na construção da minha história, com muitas recordações atravessadas...

O approach para tais reflexões aconteceu, quando pecebi que estava engordando muito rapidamente.  Isso é péssimo pra mim. Sou safenado e hipertenso. Na realidade, antes da inserção do coronavírus em nosso mundo, eu levava uma vida de atleta. Nadava regularmente, fazia trilhas e passeios de bike, duas ou três vezes por semana.

Sempre pratiquei esportes: futebol, volley, natação, judô, jogging, bike... E, depois da cirurgia cardíaca, ocorrida em 2013, a atividade física passou a ser condição "sine qua non" para a qualidade de vida. Sobrevivência mesmo!

Assim, enfurnado em casa, comendo massa em demasia, comecei a me sentir mais desconfortável dentro das roupas. A pressão arterial ficou descontrolada.

Solução? Caminhar em casa mesmo... aliás, ao redor. Não é moderna e nem espaçosa, internamente. É de conjunto, localizada num bairro classe média da capital piauiense. Circundando-a (corredores laterais, frente e quintal) tenho uma área de uns 40 metros.

Fico andando, com cuidado, pra não tropeçar em alguns degraus pelo caminho... mais roupas estendidas no varal, vassouras, pás, enxadas e outros apetrechos espalhados pelo chão... Vou me desviando de tudo. Também, tenho que me preocupar com "crostas de lodo", que tornam o solo escorregadio, visto chover em Teresina.

Destarte essas dificuldades, de não ser lugar apropriado para caminhadas, é importante fazê-las... como estratégia para perder peso e melhorar a condição cárdio-respiratória. Além disso, de lambuja, pego um pouco de sol (vitamina D), quando ele dá sinal de sua graça.

E... nessa andanças diárias, que duram por volta de hora e meia, para "matar o tempo", fico relembrando histórias que pavimentaram minha vida. A última delas me criou um problemão doméstico... tem conexão com aquela premiadíssima propaganda da Valisere: "O primeiro sutiã a gente nunca esquece", criada pelo publicitário Whashington Olivetto (1987).

No meu caso não foi bem um sutiã... e, sim, uma minúscula calcinha cor-de-rosa, com detalhes em renda, que me foi dada por uma colega da faculdade de Economia (Recife), como recordação... após caliente madrugada, na praia de Olinda, onde a lua e as estrelas foram as únicas testemunhas daquele mágico momento... o frescor da brisa do mar e o barulho das ondas embalaram uma torrente de emoções.

Bom... tenho um smart watch garmin sensacional... ele me dá informações necessárias ao controle de desempenho das atividades físicas realizadas: números de passos, distância percorrida, calorias perdidas, frequência cardíaca, etc.

Assim, caminho com passos acelerados, simultaneamente consultando o garmin. Num dia em que o sol foi esquentando, resolvi aproveitar bastante. Quanto mais o sol ardia, mais apressava os movimentos... com intuito de deixar alguns quilinhos pelo percurso.

Nisso, a imaginação me transportou no tempo e no espaço. A mente foi vagando a esmo. Aí, lembrei-,me daquele inusitado presente, conquistado na praia de Olinda... também, do que ocorreu depois.

Logo viajei pra Teresina. Vim passar férias. Arrumei a mala e trouxe todos os meus pertences. Chegando em casa, joguei tudo no guarda-roupa, sem qualquer organização. Minha mãe foi dar uma geral e viu a tal calcinha cor-de-rosa, perdida entre minhas cuecas... possivelmente, ainda com fluidos e cheiro vaginal!

Constrangido... recordei a expressão dela, incrédula, desdenhando sobre o que era "aquela marmota". Nesse momento, desconcentrei-me na caminhada, falseei o passo, tropecei no degrau e caí abruptamente ao chão.

Com o baque, mulher e filha correram para ver o acontecido. Encontraram-me estatelado, cheio de dor... observando o estrago no corpo.

Como é de praxe, minha esposa rasgou o verbo. "Não olha onde anda, rapaz... tava pensando em quê?". Respondi, sem nenhuma maldade: "Numa calcinha cor-de-rosa, qu'eu tinha tempos atrás e mamãe deu fim nela".

Fazendo um gesto zombeteiro, ela se virou pra minha filha e disse incontinente: "Esse confinamento deixou teu pai de miolo mole!".


Antônio Rodrigues de Carvalho Neto

Post Scriptum


Esta crônica é dedicada a um grupo de amigos espetacular, os "Bikers". Amizade nascida nas trilhas do mundo e mantida para toda a vida.

Saudades de todos vocês, meus brothers... David (nosso Líder!) e Henry Portela, Dr. Hélton Luz (oftalmo dos bons e cobra barato!), Ítalo (o Campeão!), Hélder Luz, Ti Neto, Vicentinho Resende, Jorge Félix, Zezão, Bismark,  Inácio Portela (maior artista plástico do Piauí!), Gustavo, Dr. João Luís, Bruno Atanásio, Zigoto (peso-pesado), Mateus, Aluísio Pessoa, Walter Cabral (furador de pneu!), José Maria...  e dos nossos magníficos pedais !!!


E... de maneira especial, aos amigos da "faculdade de Economia (UFPE)", que fizeram parte da minha história de vida em Recife: Ana Cláudia Scarpini, Marta Caldas Falcão, Maria do Socorro "Dama das Camélias", Gílson José de Oliveira, Rubinho, Wladimir Délson de Lima, Leocádio de Sales Tiné Filho, Ângela, Ivanildo, Manoel Gomes PO, José Manuel Kássimo, Paulo Sérgio Marques, Iara Marques, Ricardo Mago, Farinha, Totonho, Antônio Fabrício Guedes Alcoforado Filho, Diógenes Sócrates Robespierre de Sá, Francisco Teixeira Castelo Branco, Romildo Wílson Costa Torres, Ewardo de Deus Nunes, Honório Bona, Mohandas Lima da Hora, Antônio Teixeira Clemente, Chiquinho (Guiné Bissau), Suzy Freire, Ismeralda Nascimento, Marquinho (Cantina), José Roberto, Edmílson Paixão, Carlinhos Pontual, Mário Genaro, Mário Henrique, Hedon, Maria de Fátima Bezerra, Raimunda Nonata, Carlos Roldão de Macau Furtado... 
 

Antônio NT
Enviado por Antônio NT em 12/05/2020
Reeditado em 11/11/2023
Código do texto: T6944805
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