A Queda
José estava atrasado. Acordara atrasado, apesar da insistência do despertador.
O fado dos atrasados é a pressa e a pressa, por sua vez, é a certeza de que algo dará errado.
Arrumou-se tão rápido quando pode e partiu para o trabalho. Mas tinha fome. Não tinha tido tempo para o desjejum.
Decidiu parar no supermercado à caminho do trabalho. Deixou o carro no estacionamento e enquanto subia as escadas encontrou Carlos, colega de trabalho. Mas Carlos estava de férias.
Se Carlos era um sacana ou não, divertindo-se com o atraso do colega, José não sabia. O fato é que ele puxou conversa, sobre algum assunto que com certeza não era importante, e daí José ficou mais atrasado ainda.
Encerrada a conversa, José correu mais um pouco. Pegou um pão e um energético, pagou e voltou rapidamente para o carro.
Rápido demais.
Esqueceu-se de um último degrau nas escadas que levavam ao estacionamento subterrâneo.
Caiu. Derrubou seu pão e o energético foi parar longe - mas não tão longe quanto os óculos.
A primeira medida foi olhar para os lados. "Será que alguém viu?". Não, não havia mais ninguém para ver pois ainda não era hora de ir ao mercado.
Levantou-se, pegando tudo que havia caído e batendo a poeira da calça. Foi quando percebeu que seu tornozelo tinha sofrido mais que seu orgulho. Torcera o pé.
"Agora lascou".
Horas depois, quando enfim conseguiu ser atendido por um médico, confirmou a torção. Voltou pra casa com uma receita de anti-inflamatório e uma licença para o restante da semana.
Ao chegar em casa, assustou a esposa, que ainda se levantava:
- Ué, já voltou? E o que é isso no seu...
- Torci o pé. Mas pelo menos não cheguei atrasado.