NUM DOMINGO DE SOL
Ao contar a história do nosso rio Guaribas, lembrei-me do episódio de uma manhã de domingo do primeiro semestre do ano de 1979 em um poço grande e relativamente profundo do leito do Guaribas localizado em igual distância entre os bairros Baixio da Ipueiras, Junco e Pedrinhas. Esse episódio foi, na realidade, o afogamento de um menino desconhecido lá do bairro Junco, um garoto de 11 anos de idade, que, conforme se ficou sabendo, andava em companhia de outros meninos maiores também daquele mesmo bairro, o qual foi salvo por mim. Aliás, aquela foi a única vez que vi aquela criança, e, de fato, desmaiada. Mas depois fiquei sabendo que milagrosamente ele sobrevivera.
Num determinado momento, por volta das 11 horas ou mais, talvez quase meio-dia, um dos seus amigos, em grande escarcéu saiu correndo e avisando a todos que ali estavam presentes, que, por descuido deles, o menino caíra num declive abrupto e estava submerso nas águas relativamente turvas e fundas de um dos trechos do poço, de mais ou menos três metros de fundura; o qual era circundado parcialmente por diversos barrancos do lado oposto aos bancos de areia daquela praia fluvial.
A partir daquele momento, inúmeras eram as tentativas de todos os que sabiam mergulhar e nadar, inclusive eu que aprendi desde pequeno. De repente, como um milagre, depois de ter efetuado também vários mergulhos em meio aos vários nadadores aflitos, consegui localizá-lo desfalecido no mais fundo daquele poço do rio, resgatando-o e levando-o até a superfície. A partir daí todos os que lá estavam, em grande aflição e alvoroço tomaram de conta e ajudaram no salvamento daquele menino que, desmaiado, foi posto deitado na areia, para a agilização dos primeiros socorros, e em seguida transportado urgentemente ao hospital no carro de um comerciante que se encontrava numa roça sua ali das proximidades.
Instantes depois do ocorrido, várias daquelas pessoas jovens presentes, de forma enaltecedora voltaram-se para mim, tecendo elogios pertinentes àquela minha coragem e ato de heroísmo e bravura por ter conseguido resgatar do fundo do poço do rio aquela criança ora ali afogada. Mas, sem almejar qualquer tipo de compensação ou glorificação por uma ação heroica, eu fiz o esforço sem abnegação e com base nos meus princípios morais e éticos, sublimando ações solidárias e altruístas, com o objetivo principal ali de salvar aquela vida humana. Portanto, mesmo sabendo que se trata inegavelmente de um ato heroico ou façanha/proeza, essa não era a minha intenção naquele momento; eu queria mesmo era salvar uma vida. E consegui, graças a Deus!
Havia cerca de cinquenta pessoas ali no local e imediações, naquela manhã de sol, entre homens e mulheres, sendo uns poucos adultos, algumas crianças e a grande maioria jovens. Eram banhistas dos bairros Ipueiras, Baixio da Ipueiras, Junco, Pedrinhas e até do centro da cidade de Picos, entre outros, que, buscando uma forma de lazer, aproveitavam as praias fluviais do rio Guaribas no período pós-enchentes, quando se formavam também em seu leito grandes e profundos poços. Até uma charanga da cidade outro dia de domingo lá também se fez presente.
Esse fato ocorreu mais ou menos dois ou três meses após eu ter concluído o Serviço Militar no Exército Brasileiro, no 3º BEC, onde tive a honra e o orgulho de durante um ano servir à Pátria nas fileiras do Exército.
Em última instância, quero aqui ressaltar que depois de tanto tempo que ocorreu aquele fato, seria bom conhecer aquela pessoa que um dia no já relativamente longínquo ano de 1979, tive a felicidade de conseguir salvar de trágico e fatal afogamento. Isso, evidentemente, apenas para efeito de cumprimentação.
Edimar Luz
Picos - PI, 12/01/2010.
DEPOIMENTO:
> Date: Tue, 10 Mar 2015 21:28:05 - 0300
> Assunto: Num domingo de sol - Eu estava lá
> Nome: Francisco Bezerra
> IP: 179.190.223.157
> Mensagem: Eu estava lá
>Boa Noite Edimar Luz. Me chamo Francisco Bezerra, moro em Natal/RN, sou Capitão do Corpo de Bombeiros/RN. Morei por dez anos em Picos/PI, meu pai Tércio, era funcionário do 3º BEC, lugar onde meu irmão SD Maia serviu durante cinco anos. E confesso: foram os melhores anos da minha vida. Sempre que posso acesso pela internet notícias de Picos, e hoje dia 10/03/2015, para minha felicidade tive a oportunidade de encontrar esse artigo que você escreveu em 12/01/2010 onde relata o salvamento de um garoto no Rio Guaribas. Na época eu tinha 12 anos de idade e estava lá quando tudo aconteceu, lembro perfeitamente do desespero das pessoas na procura do garoto e do resgate. Aquilo me deixou com medo de continuar tomando banho e depressa corri para minha casa, pois, estava ali sem que meus pais soubessem. Lembro também que alguns dias depois avistei o garoto, e dei graças a Deus por ele ter sobrevivido. Sou testemunha do que aconteceu num domingo de sol, pois, estava lá. Aproveito para lhe parabenizar pelo feito e que DEUS continue lhe abençoando. Um abraço.
(Depoimento Testemunhal do hoje Capitão Francisco Bezerra, do Corpo de Bombeiros do estado do Rio Grande do Norte, que ainda era criança na época em que ocorreu esse fato).