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CRÔNICA DE QUARENTENA 3
MERCADO DE MÁSCARAS
Estamos na era das máscaras protetoras faciais. Não é uma opção, mas uma obrigação diante da pandemia do Covid-19. Não podemos entrar em bancos e estabelecimentos comerciais sem que elas estejam ali, cobrindo nossa boca e nariz para nos proteger e proteger quem está perto de nós.
Nunca escondemos tanto o rosto em pleno século XXI e nunca o mercado de máscaras tem crescido tanto quanto agora nessa época de pandemia. Quando acesso o Instagran, por exemplo, o que mais vejo é: comércio de máscaras, publicidade de máscaras, modelos de máscaras, moldes de máscaras, passo a passo para fazer máscaras... No Youtube então, o que mais tem é tutorial para confeccionar máscaras, sejam elas de pregas— as mais comuns—, bico de pato, ninja, 3D e por ai vai... Opção não falta para se proteger de forma simples ou fashion. E por falar em fashion, encontrei no Instagran, Pinterest e outros tantos espaços da Internet, máscaras de tricô e crochê, de renda e laise, bordadas com linhas e até mesmo com pedrarias, com vivos coloridos... E as estampadas então... Quanta criatividade! O ser humano é muito criativo não importa as circunstâncias. Adeus às convencionais máscaras brancas e descartáveis. A moda agora é máscara de bolinha, xadrez, listrada, com estampas floridas, e tribais... Até mesmo os homens deixaram o machismo de lado para se protegerem e não estão nem ai com máscaras de poás ou de florais.
Mas claro, existem regras a serem seguidas com relação a essas máscaras de tecido feitas em casa. Elas precisam ter duas faces, ou seja, dois panos para que a barreira seja mais segura e se possível de tecido de algodão porque as fibras são mais juntas. Mas esses quesitos não impedem que a mente humana faça suas invenções, pois se é para proteger, que a proteção tenha também requinte, beleza, elegância, glamour, humor... Porque não?
O mais importante é que o uso da máscara impede a disseminação e o contato com gotículas infectadas do Covid-19. Não esquecendo que elas devem ser trocadas de duas em duas horas, nada de ficar tocando com as mãos e jamais ficar com elas abaixadas no queixo. Essas e outras tantas normas precisam ser seguidas para que as máscaras cumpram bem o seu papel, caso contrário elas de pouco adiantam. Além disso, jamais se esquecer do álcool em gel, da lavagem de mãos e de todas as medidas de prevenção necessárias.
Bem, com o mercado de máscaras, resolvi fazer algumas, não para vender, mas para doar. Eu já vinha pensando nisso, mas faltava coragem e material porque todo o comércio estava praticamente fechado. Eu não sabia que estavam atendendo de forma, digamos, clandestina, porque não tenho saído de casa em razão da quarentena forçada.
Mas a sacudida para fazer as máscaras, veio, confesso, através de alguém do Recanto das Letras. Depois do que ele falou eu nem dormi à noite. No dia seguinte fui dar uma acelerada no fusca para não arriar a bateria e passei na rua onde fica uma lojinha de tecidos e pasmem, estava aberta. Parei o fusca e corri lá. Comprei alguns metros de tricoline, o tecido recomendado para fazer as máscaras. E quem disse que encontrava elástico. Sim, está faltando elástico em minha cidade de trinta e três mil habitantes e as costureiras de plantão estavam se virando como podiam para atender a demanda, tudo em razão do mercado de máscaras que crescera assustadoramente e eu, de quarentena nem percebi.
Mas em outra loja semiaberta encontrei elásticos largos e fui partindo eles em várias tiras. Deu certo. Inclusive nessa loja aconteceu um fato interessante: estava eu lá e entrou uma senhora grande amiga —também à procura de elástico— e não me reconheceu de imediato por causa da máscara. Rimos muito porque nessa era mascarada já não se reconhece nas ruas. Pior é não poder apertar a mão das pessoas. Enfim...
Quando voltei à loja para comprar mais tecidos eu estava empolgada. Só tinha costureira lá comprando e todas comentavam os modelos e quem estava encomendando. Uma delas, contou que o esposo ao ajuda-la errou o corte de cem máscaras para uma empresa, porque ao colocar o molde sobre o tecido, esqueceu as margens para costura. Cada história... O fato é que o mercado de máscaras estava a todo vapor e as tricolines sumindo das prateleiras e as costureiras apelando para o oxfordine.
Então fiz minhas máscaras. Ao todo cento e dezoito máscaras estampadas, de bolinhas, listradas, de cores lisas... Fiz máscaras de pregas, de bico de pato... Não fiz muito, porque confesso, os reais acabaram. Sou aposentada. Veja bem, não estou reclamando, apenas constatando um fato. Mas se pudesse teria feito mais. Mas talvez eu faça mês que vem.
Foram seis dias pedalando a minha velha máquina de costura de quarenta anos. Daquelas em que se usa o pé mesmo. Não gosto da elétrica portátil. Sei lidar bem com minha velhinha e ela comigo até mesmo quando a corda fica soltando a todo o momento. Nunca perdi a paciência. Uma linda história, aliás, que não vem ao caso agora.
Hoje fui levar minhas máscaras para entregar à Pastoral da Solidariedade. Preferi assim porque eles sabem melhor que eu quem está precisando. Dessas reservei vinte para a família. Na verdade só mencionei esse fato de doar máscaras para mostrar a importância do uso das máscaras no momento atual e que tem pessoas que não tem condições de ter uma máscara sequer.
Então como podem notar o mercado de máscaras não é um simples fato, mas uma realidade que, embora, cheia de histórias, às vezes hilárias, abusivas ou fashionistas, é a nossa arma contra o inimigo invisível, o Covid-19. E isso ficou mais claro quando aproveitei também hoje para passar na Caixa Econômica Federal para resolver uma questão, mas não animei por que a fila estava há dois quarteirões da agência. Uma fila de guerreiros ninjas a perder de vista. Ou seja, todos de máscaras coloridas ou floridas sob o sol morno de outono... Algumas me chamaram a atenção como uma máscara preta de bolinhas brancas que cobria o rosto de um senhor e outra com estampa de jornal que cobria o rosto de um jovem. O que importa é se proteger.
Fiquei olhando aquela fila interminável de guerreiros. Intimamente lutando contra o covid-19 e contra a fome. Sim, contra a fome, porque quase todos ali, certamente estavam em busca dos seiscentos reais oferecidos pelo governo que ia garantiriam um pouco da comida na mesa. Eram todas pessoas simples. Pessoas marcadas pelas lutas. No rosto, as máscaras, e, talvez, alguma esperança enquanto durar a pandemia e os decretos...
Enquanto isso o mercado de máscaras trabalha a todo vapor. Afinal, enquanto, a vacina contra o Covid-19 não chega, as máscaras garantem, pelo menos em parte, a imunidade do mundo.
Nunca escondemos tanto o rosto em pleno século XXI e nunca o mercado de máscaras tem crescido tanto quanto agora nessa época de pandemia. Quando acesso o Instagran, por exemplo, o que mais vejo é: comércio de máscaras, publicidade de máscaras, modelos de máscaras, moldes de máscaras, passo a passo para fazer máscaras... No Youtube então, o que mais tem é tutorial para confeccionar máscaras, sejam elas de pregas— as mais comuns—, bico de pato, ninja, 3D e por ai vai... Opção não falta para se proteger de forma simples ou fashion. E por falar em fashion, encontrei no Instagran, Pinterest e outros tantos espaços da Internet, máscaras de tricô e crochê, de renda e laise, bordadas com linhas e até mesmo com pedrarias, com vivos coloridos... E as estampadas então... Quanta criatividade! O ser humano é muito criativo não importa as circunstâncias. Adeus às convencionais máscaras brancas e descartáveis. A moda agora é máscara de bolinha, xadrez, listrada, com estampas floridas, e tribais... Até mesmo os homens deixaram o machismo de lado para se protegerem e não estão nem ai com máscaras de poás ou de florais.
Mas claro, existem regras a serem seguidas com relação a essas máscaras de tecido feitas em casa. Elas precisam ter duas faces, ou seja, dois panos para que a barreira seja mais segura e se possível de tecido de algodão porque as fibras são mais juntas. Mas esses quesitos não impedem que a mente humana faça suas invenções, pois se é para proteger, que a proteção tenha também requinte, beleza, elegância, glamour, humor... Porque não?
O mais importante é que o uso da máscara impede a disseminação e o contato com gotículas infectadas do Covid-19. Não esquecendo que elas devem ser trocadas de duas em duas horas, nada de ficar tocando com as mãos e jamais ficar com elas abaixadas no queixo. Essas e outras tantas normas precisam ser seguidas para que as máscaras cumpram bem o seu papel, caso contrário elas de pouco adiantam. Além disso, jamais se esquecer do álcool em gel, da lavagem de mãos e de todas as medidas de prevenção necessárias.
Bem, com o mercado de máscaras, resolvi fazer algumas, não para vender, mas para doar. Eu já vinha pensando nisso, mas faltava coragem e material porque todo o comércio estava praticamente fechado. Eu não sabia que estavam atendendo de forma, digamos, clandestina, porque não tenho saído de casa em razão da quarentena forçada.
Mas a sacudida para fazer as máscaras, veio, confesso, através de alguém do Recanto das Letras. Depois do que ele falou eu nem dormi à noite. No dia seguinte fui dar uma acelerada no fusca para não arriar a bateria e passei na rua onde fica uma lojinha de tecidos e pasmem, estava aberta. Parei o fusca e corri lá. Comprei alguns metros de tricoline, o tecido recomendado para fazer as máscaras. E quem disse que encontrava elástico. Sim, está faltando elástico em minha cidade de trinta e três mil habitantes e as costureiras de plantão estavam se virando como podiam para atender a demanda, tudo em razão do mercado de máscaras que crescera assustadoramente e eu, de quarentena nem percebi.
Mas em outra loja semiaberta encontrei elásticos largos e fui partindo eles em várias tiras. Deu certo. Inclusive nessa loja aconteceu um fato interessante: estava eu lá e entrou uma senhora grande amiga —também à procura de elástico— e não me reconheceu de imediato por causa da máscara. Rimos muito porque nessa era mascarada já não se reconhece nas ruas. Pior é não poder apertar a mão das pessoas. Enfim...
Quando voltei à loja para comprar mais tecidos eu estava empolgada. Só tinha costureira lá comprando e todas comentavam os modelos e quem estava encomendando. Uma delas, contou que o esposo ao ajuda-la errou o corte de cem máscaras para uma empresa, porque ao colocar o molde sobre o tecido, esqueceu as margens para costura. Cada história... O fato é que o mercado de máscaras estava a todo vapor e as tricolines sumindo das prateleiras e as costureiras apelando para o oxfordine.
Então fiz minhas máscaras. Ao todo cento e dezoito máscaras estampadas, de bolinhas, listradas, de cores lisas... Fiz máscaras de pregas, de bico de pato... Não fiz muito, porque confesso, os reais acabaram. Sou aposentada. Veja bem, não estou reclamando, apenas constatando um fato. Mas se pudesse teria feito mais. Mas talvez eu faça mês que vem.
Foram seis dias pedalando a minha velha máquina de costura de quarenta anos. Daquelas em que se usa o pé mesmo. Não gosto da elétrica portátil. Sei lidar bem com minha velhinha e ela comigo até mesmo quando a corda fica soltando a todo o momento. Nunca perdi a paciência. Uma linda história, aliás, que não vem ao caso agora.
Hoje fui levar minhas máscaras para entregar à Pastoral da Solidariedade. Preferi assim porque eles sabem melhor que eu quem está precisando. Dessas reservei vinte para a família. Na verdade só mencionei esse fato de doar máscaras para mostrar a importância do uso das máscaras no momento atual e que tem pessoas que não tem condições de ter uma máscara sequer.
Então como podem notar o mercado de máscaras não é um simples fato, mas uma realidade que, embora, cheia de histórias, às vezes hilárias, abusivas ou fashionistas, é a nossa arma contra o inimigo invisível, o Covid-19. E isso ficou mais claro quando aproveitei também hoje para passar na Caixa Econômica Federal para resolver uma questão, mas não animei por que a fila estava há dois quarteirões da agência. Uma fila de guerreiros ninjas a perder de vista. Ou seja, todos de máscaras coloridas ou floridas sob o sol morno de outono... Algumas me chamaram a atenção como uma máscara preta de bolinhas brancas que cobria o rosto de um senhor e outra com estampa de jornal que cobria o rosto de um jovem. O que importa é se proteger.
Fiquei olhando aquela fila interminável de guerreiros. Intimamente lutando contra o covid-19 e contra a fome. Sim, contra a fome, porque quase todos ali, certamente estavam em busca dos seiscentos reais oferecidos pelo governo que ia garantiriam um pouco da comida na mesa. Eram todas pessoas simples. Pessoas marcadas pelas lutas. No rosto, as máscaras, e, talvez, alguma esperança enquanto durar a pandemia e os decretos...
Enquanto isso o mercado de máscaras trabalha a todo vapor. Afinal, enquanto, a vacina contra o Covid-19 não chega, as máscaras garantem, pelo menos em parte, a imunidade do mundo.