SEM TÍTULO
Você nunca disse que me amava! Finalmente desabafei ao chegarmos em frente ao prédio em que ela morava. Ela apenas levantou a cabeça e me dirigiu o olhar como se não tivesse entendido. Com um tom mais baixo repeti: Você nunca disse que me amava durante todo esse tempo em que estamos juntos. Ela largou o puxador da porta do carro e pegou na minha mão dizendo: "Por isso esteve calado o tempo todo? Desculpe, nunca me ocorreu que precisava dizer". Aproximou o rosto para me dar um beijo e me afastei. Fui um idiota, reconheço. Tinha apenas vinte e dois anos e ela somente vinte. Como poderia cobrar de alguém tão jovem algo tão sério, tão comprometedor? Mesmo eu era muito jovem. Mas já fazia dois anos que namorávamos e eu sentia amor de verdade. Depois de um tempo a fiz sofrer demais. Me apaixonei por outra garota e rompi o namoro. Uma amiga em comum contou como ela ficou arrasada. Me ligava somente para ouvir minha voz e desligava em seguida. Ia até o meu prédio somente para ver na garagem se meu carro estava lá, pois assim saberia que eu estava em casa. Contou que quando ela chegava em casa depois do trabalho fechava a porta e, recostada na mesma, deslizava até o chão a chorar. Eu também sofria, porque gostava dela. Mas, vai entender essas coisas da paixão. Então lhe escrevi uma carta pedindo perdão e explicando que eu não tinha culpa, que tinha sido pego de surpresa pelo novo sentimento por outra, e que gostava dela, mas não podia ir de encontro ao que tinha chegado no meu íntimo.
Um ano se passou e conseguimos manter uma pequena relação de amizade. Foi quando chegou a época da minha formatura em uma Patente superior. Coração vagabundo, também já não estava com a garota que foi o pivô da separação e a convidei para ser minha madrinha de formatura, afinal era uma pessoa muito querida pra mim. Comprei-lhe um bonito vestido para o baile de gala e meus pais a foram buscar em casa no dia da festa. Mas cometi um terrível erro. Convidei também uma vizinha, que tinha apenas dezessete anos. Durante a festa, bebi demais e abandonei minha ex-namorada na mesa com meus pais. Passei a dançar com a minha jovem vizinha e ela, solitária, decidiu que queria ir embora. Dirigiu-se até a pista de dança e se despediu. Meio embriagado, a segurei e pedi que não fosse. Ela foi muito elegante e não mencionou o fato de se sentir abandonada na festa, alegando estar apenas cansada. Como insisti, ela falou a verdade, ou melhor, o que supostamente seria verdade. Ela disse que tinha me visto dançando e que também tinha visto o beijo na minha vizinha. Não tinha visto nada, era só para se desvencilhar de mim mais rapidamente e confirmar que queria mesmo ir embora. Ela só estava jogando e eu caí. Todo errado, procurei desconversar e disse que tinha sido beijado de surpresa. Nesse momento a garota passava por nós e ela a pegou pelo braço e falou: “Ele disse que você o beijou”. A menina, atônita e sem graça retrucou: “Mas, foi ele que me beijou”.
Amigo, a partir daí uma verdadeira cena de cinema se desenrolou. Ela me chamou de canalha me esbofeteando a face em seguida e, aos prantos, subiu a escadaria correndo, a levantar o vestido longo para não tropeçar. Ao vê-la chegar chorando, meus pais prontamente foram até ela levando-a até a mesa. Eu subi logo após e tentei conversar, mas a cada palavra embaralhada que dizia, ela com uma tristeza imensa, se enfurecia ainda mais. A levei até a janela para respirar, mas insisti e insisti até ela ameaçar jogar o corpo para trás, já que a janela era muito baixa. Não é que quisesse se matar, queria era se ver livre de mim. Foi quando finalmente cedi e concordei em levá-la para casa. Deixamos o baile e meus pais nos seguiram no seu carro com a jovem vizinha. Não dissemos uma palavra durante o percurso e ao descer do carro nem olhou para mim. Apenas consegui dizer ”me perdoe”, antes dela bater a porta e entrar no seu prédio.
Na manhã seguinte, curado do pileque, fui até sua casa com um frasquinho de alguma coisa para ressaca. Não sei porque levei isso, já que ela mal tinha bebido, mas achei que me redimiria, ou algo assim. Ela me recebeu na porta e não me convidou a entrar. Dias depois a nossa amiga em comum contou que naquela noite eu tinha morrido. Que ela tinha me esperado por um ano, que acreditou que o convite para o baile fosse um recomeço e que a decepção foi tão grande que eu poderia me considerar realmente morto para ela. Fiquei triste, mas entendi.
Ela casou com um cara legal depois de certo tempo. Têm um filho e outro a caminho. Eu namorei mais algumas garotas, noivei com a última delas. Irmão, se não fosse de fato minha história de vida, certamente seria uma crônica. Com a data do casamento marcada, apartamento montado, convites distribuídos, minha futura esposa terminou tudo uma semana antes do casamento. Foi o maior pesadelo que já vivi. Devolvemos todos os presentes, cancelamos a igreja, o salão e o bufê. Fiquei destruído amorosa e financeiramente.
Não lembro se algum dia cobrei da minha ex noiva o “Eu te amo” que cobrei da minha primeira namorada. Talvez ela tenha achado que eu não me importava e por isso desistido do casamento. Talvez tenha descoberto amar outro. Talvez tenha sido porque sou só um “errado” mesmo.
Dedicatória:
Para um amigo com quem vivenciei alguns dos momentos aqui narrados. Sua história resultou nessa crônica, como ele previu.
Um ano se passou e conseguimos manter uma pequena relação de amizade. Foi quando chegou a época da minha formatura em uma Patente superior. Coração vagabundo, também já não estava com a garota que foi o pivô da separação e a convidei para ser minha madrinha de formatura, afinal era uma pessoa muito querida pra mim. Comprei-lhe um bonito vestido para o baile de gala e meus pais a foram buscar em casa no dia da festa. Mas cometi um terrível erro. Convidei também uma vizinha, que tinha apenas dezessete anos. Durante a festa, bebi demais e abandonei minha ex-namorada na mesa com meus pais. Passei a dançar com a minha jovem vizinha e ela, solitária, decidiu que queria ir embora. Dirigiu-se até a pista de dança e se despediu. Meio embriagado, a segurei e pedi que não fosse. Ela foi muito elegante e não mencionou o fato de se sentir abandonada na festa, alegando estar apenas cansada. Como insisti, ela falou a verdade, ou melhor, o que supostamente seria verdade. Ela disse que tinha me visto dançando e que também tinha visto o beijo na minha vizinha. Não tinha visto nada, era só para se desvencilhar de mim mais rapidamente e confirmar que queria mesmo ir embora. Ela só estava jogando e eu caí. Todo errado, procurei desconversar e disse que tinha sido beijado de surpresa. Nesse momento a garota passava por nós e ela a pegou pelo braço e falou: “Ele disse que você o beijou”. A menina, atônita e sem graça retrucou: “Mas, foi ele que me beijou”.
Amigo, a partir daí uma verdadeira cena de cinema se desenrolou. Ela me chamou de canalha me esbofeteando a face em seguida e, aos prantos, subiu a escadaria correndo, a levantar o vestido longo para não tropeçar. Ao vê-la chegar chorando, meus pais prontamente foram até ela levando-a até a mesa. Eu subi logo após e tentei conversar, mas a cada palavra embaralhada que dizia, ela com uma tristeza imensa, se enfurecia ainda mais. A levei até a janela para respirar, mas insisti e insisti até ela ameaçar jogar o corpo para trás, já que a janela era muito baixa. Não é que quisesse se matar, queria era se ver livre de mim. Foi quando finalmente cedi e concordei em levá-la para casa. Deixamos o baile e meus pais nos seguiram no seu carro com a jovem vizinha. Não dissemos uma palavra durante o percurso e ao descer do carro nem olhou para mim. Apenas consegui dizer ”me perdoe”, antes dela bater a porta e entrar no seu prédio.
Na manhã seguinte, curado do pileque, fui até sua casa com um frasquinho de alguma coisa para ressaca. Não sei porque levei isso, já que ela mal tinha bebido, mas achei que me redimiria, ou algo assim. Ela me recebeu na porta e não me convidou a entrar. Dias depois a nossa amiga em comum contou que naquela noite eu tinha morrido. Que ela tinha me esperado por um ano, que acreditou que o convite para o baile fosse um recomeço e que a decepção foi tão grande que eu poderia me considerar realmente morto para ela. Fiquei triste, mas entendi.
Ela casou com um cara legal depois de certo tempo. Têm um filho e outro a caminho. Eu namorei mais algumas garotas, noivei com a última delas. Irmão, se não fosse de fato minha história de vida, certamente seria uma crônica. Com a data do casamento marcada, apartamento montado, convites distribuídos, minha futura esposa terminou tudo uma semana antes do casamento. Foi o maior pesadelo que já vivi. Devolvemos todos os presentes, cancelamos a igreja, o salão e o bufê. Fiquei destruído amorosa e financeiramente.
Não lembro se algum dia cobrei da minha ex noiva o “Eu te amo” que cobrei da minha primeira namorada. Talvez ela tenha achado que eu não me importava e por isso desistido do casamento. Talvez tenha descoberto amar outro. Talvez tenha sido porque sou só um “errado” mesmo.
Dedicatória:
Para um amigo com quem vivenciei alguns dos momentos aqui narrados. Sua história resultou nessa crônica, como ele previu.