Base Aérea do Galeão: o plano para explosão do gasômetro

O ano é o fim de 1969. Está em vigor o Ato Institucional n° 5 que pretendia banir quem cometesse crimes políticos.

O local onde narro é a Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, capital.

O quartel está em alerta permanente. A P.A. (Polícia da Aeronáutica) está de prontidão para coibir distúrbios civis. A Base está toda cercada por soldados de infantaria armados com fuzis belgas.

Muitos presos políticos estão ali sendo torturados, com amplo apoio dos médicos militares, os quais não permitem a morte do suposto terrorista, antes de dar as informações valiosas ao comando. Aqueles que morriam por não aguentarem as perversidades eram colocados nos aviões para serem jogados em alto mar.

O brigadeiro Burnier era o então chefe do temido CISA (Centro de Inteligência da Aeronáutica). Este oficial aviador que foi treinado pela CIA (Central de Inteligência dos EUA), foi um opositor ferrenho do socialismo russo. Via comunismo em tudo, até em camisa de cor vermelha que alguém viesse a usar na vila dos oficiais.

Burnier foi um dos responsáveis por uma tentativa de deposição de JK, no começo da segunda metade da década de 1950. Liderou uma quartelada na Aeronáutica, obrigando JK a se unir com generais do Exército que deram legitimidade ao então politico de Minas Gerais, o qual ainda viveria no Palácio do Catete, no Rio, até que a capital fosse transferida em 1960 (para Brasília, no Centro Oeste).

O combate aos grupos de guerrilha urbana era a prioridade, desde o atentado a bomba no Recife. Este atentado calou fundo na alta oficialidade. Generais morreram ali e outros ficaram gravemente feridos.

Lamarca e Marighela estavam mortos já, mas os focos de assaltos a banco e os sequestros de embaixadores pedindo liberação de presos políticos ainda estavam em andamento. As Forças Armadas montam, juntamente com as forças policiais dos Estados, uma rede de repressão e de troca de informações, com práticas paralelas de combate. Muitos dos militares que trabalhavam nestas operações não usavam farda há alguns meses, estavam com barbas grandes e usavam identidades falsas para coletarem informações (especialmente em jornais e universidades).

Num belo dia, o Brigadeiro Burnier, que era conhecido pela violência que praticava nas sessões de torturas, convoca uma tropa de elite: o PARA-SAR. Essa unidade, que funcionava dentro da Base Aérea do Galeão, era responsável por incursões em áreas de difícil acesso, por meio de saltos ou escaladas em morros. Podiam ser empregados tanto em combate como resgate em acidentes aéreos.

Porém, o Brigadeiro Burnier tinha outros planos para esta tropa. Lembrou que Hitler mandou atear fogo no parlamento alemão, no começo da década de 1930, colocando a culpa nos comunistas e, com isso, criando as condições para ser ditador.

Logo: convoca a tropa e pede que os mesmos ateiem fogo nas refinarias de Petróleo nas proximidades da avenida Brasil, no norte do Rio de Janeiro. A equipe de inteligência e os censores na imprensa seriam informados que foi um atentado da Ação Popular e do MR-8: dois grupos de guerrilha remanescentes de Lamarca e Marighela, já mortos.

O Major Santos, que era médico, se coloca, junto com o Capitão Sérgio Macaco, a frente e dizem juntos:

- Não vamos cumprir essa missão, não, Brigadeiro de merda!!! Haverá a morte de pessoas inocentes....

O Brigadeiro Burnier fica enfurecido com o atrevimento dos dois oficiais. Como punição, o Major Santos foi transferido para os confins do Brasil: a Base Aérea de Campo Grande.

Já o Capitão Sérgio Macaco toma outro destino. Entra na clandestinidade.

Um dos segredos que estes oficiais tinham guardado é que Rubens Paiva e o filho da estilista Zuzu Angel foram vítimas de Burnier. Seus corpos foram jogados de Hércules no alto mar.

LUCIANO DI MEDHEYROS
Enviado por LUCIANO DI MEDHEYROS em 05/04/2020
Reeditado em 25/01/2024
Código do texto: T6907477
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