## um canto triste ##
Ontem novamente escutei seu canto. Não identifico bem os cantos dos pássaros, mas este sempre me leva para aquele gramado.
Senti a dor, agora branda, da saudade.
O gramado, a garoa, as pessoas ao redor, a reza partindo o coração ao meio. Cena que minha covardia se negou a olhar.
Enquanto amigos e família cumpriam o ritual, alguns sentidos, outros sofridos, e uns tantos cumprindo apenas uma obrigação social, eu olhava o céu, de um azul borrado.
Lágrimas escorriam livres e intermitentes, porém, silenciosas.
O canto insistente coroava a tristeza.
Algum sinal de que ele se libertara da gaiola da vida? Da prisão mundana onde a única porta de saída é a morte?
O que, afinal, aquele pássaro queria dizer?
Não sei, mas ontem, durante a garoa, pude escutar seu canto, me levando novamente ao lugar sofrido de despedida, dor e saudade.
Talvez um sábio canto de liberdade.
E na lonjura do seu olhar, sinto-me quase nada, diante do tudo que não posso dominar ou decifrar.