Palavra Solta – Dona Domingas

Palavra Solta – Dona Domingas

*Rangel Alves da Costa

Bom dia, Dona Domingas! Cadê a almofada, cadê a linha, cadê o tamborete, cadê os bilros, cadê os espinhos longos e pontudos de mandacaru, cadê o papelão marcado com linhas perfeitas e motivos floridos? Dona Domingas, bom dia! Cadê a formosura da renda, cadê o prazer pelo ofício, cadê a arte maior nascida de mãos rendeiras? As calçadas adormecem nos silêncios da passagem das horas. Os cantos das salas já não cantam a canção dos bilros. Ainda se faz, mas agora se faz muito pouco. Já não ouço, como noutros dias, o som dos bilros sendo tocados, sendo levados por cima da almofada e tracejando a marcação. Já não vejo a artista dando vida ao seu bem-fazer, bem-criar, bem-gestar os traços do encantamento. As rendas de bilros não podem parar, as rendeiras não podem ser esquecidas, a arte sertaneja não pode deixar de brotar. Que Dona Domingas e todas as rendeiras de Poço Redondo e do sertão, jamais guardem suas almofadas nem repousem em desencanto suas mãos sábias e geniais.

Escritor

blograngel-sertao.blogspot.com