BEM NO FUNDO DO RIO
BEM NO FUNDO DO RIO
MARÍLIA L.PAIXÃO
Agoniada a existência pesa. Parece que a alma está mal embrulhada num papel grosso, de carne, sem barbante. Fácil para qualquer um ver o quanto ainda está crua. Breve parecerá queimada... Assim como se queimam asas de anjo que não consegue voar direito. Devo ser um anjo desfeito. Uma asa branca e outra cinza e nenhuma serve para voar. Precisava voar. Andar é lento e meus passos estão pesados. Se há caminho, um pede que eu leve chumbo e outro que eu derrube muros. Merecia poder voar e não ficar a procura de um buraquinho. Não existe um canudinho que me atravesse de um lado para o outro, sequer do céu. Não quero voar para longe. Preciso estar perto do meu ouro que vive lado a lado. Será que é num céu dourado? Será que o meu céu preferiria minha alegria viva a uma paz quase morta, sem glória? Ás vezes me sinto no deserto de mim mesma e minha alma ainda brilha a espera do sol poente. Ela deve ser uma alma delinqüente enquanto um pouco da minha sabedoria divaga. O mundo parece ter apenas respostas vagas e minhas perguntas não são complexas. São perguntas de peixe sentindo frio bem no fundo do rio.