Dom de Escrever
Era como uma prova que faria de mim. Um desafio de escrever um continho, assim, do nada. Porque eu vivo dizendo que sou escritor e que minha pena é afiada, que traço à lápis os cenários mais realistas. Mas, a gente sabe que precisa ter uma baita de uma técnica, senão a coisa não vai. Outra coisa ajuda: um disco de Martinho da Vila girando em minha vitrolinha, que também é uma mala em couro de caixeiro-viajante. Os autores que li em minha vida, a tal ponto me influenciaram, que entrevejo um amplo horizonte, escuto o canto da minha sereia, querendo me perder, cada vez mais.
Sinceramente, me parece ser o mais próximo de um “dom” que supostamente EU tenha, como no livro “capitães de areia”, quando o moleque Pedro Bala escuta uma voz em sua consciência infante, dita pelo Universo, validando aquele destino insinuante, aventuroso que se lhe apresentaria em breve. Costumo repetir como um grande clichê, que sou mais um leitor do que um escritor; daí um dia destes, vejo uma entrevista do Chico Buarque dizendo exatamente o mesmo sobre si, o que é isso, senão um carimbo ratificador de minha veia escritora?