JÁ FUI UM POUCO DE TUDO NESSA VIDA

Já fui um pouco de tudo nessa vida e sei lá o que mais.

Fui farsante, herói, ladrão, mendigo, rei, deplorável, cigano, banido,

ridículo, perverso, frio, esquisito, maravilhoso, desafinado, sei lá o que mais.

Já achava que era Deus, juiz, eco, muralha, porrete, algema, pasto, gigante, oásis, cais, sei lá o que mais.

Já vaguei desnudo, encardido, ensanguentando, enlouquecido, doente, fantasiado, atormentado, algemado, desesperado, abençoado, sei lá o que mais.

Já desafiei a lei, o vento, a luz, o certo, o roteiro, o que não podia, a verdade, o mar, o destino, o caminho, a paixão, a corrente, o coração, a alegoria, sei lá o que mais.

Já fiz o papel de carrasco, de mendigo, de feitor, de pastor, de delegado, de idiota, de órfão, de pervertido, de maluco, de palhaço, de mãe, de ermitão, de mestre, de ditador, de pajé, de sei lá o que mais.

Já um pouco morri, um pouco seduzi, um pouco alegrei, um pouco sarei,

um pouco ensinei, um pouco compreendi, um pouco aturei, um pouco adorei, um pouco encantei, um pouco amei, um pouco fui sei lá o que mais.

Já de um jeito me fiz de anjo, bebê, fantasma, vagabunda, privada, bicho, pedra, cuspe, fossa, verso, voz, medo, gosto, troco, resto, fresta, poeira, nada, sei lá o que mais.

Um dia ainda quero ser vento, lastro, reboco, porto, arremate, prece, barro, beijo, negro, atalho, aplauso, tesouro, semente, sorriso, laço, perfume, voz, prazer, carinho, janela, chão, sei lá o que mais.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 28/01/2020
Reeditado em 28/01/2020
Código do texto: T6852137
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