Diário de Bordo (A cabana do Xamã)
Diário de Bordo (A cabana do Xamã)
No princípio era um terreno cheio de mato, tocos, raízes e muito cipó entremeado. Mas, quando o meu olhar bateu nele, vi de imediato que ali seria o lugar perfeito para se edificar uma cabana nos moldes que a sustentabilidade indica.
Depois desse enamoramento inicial, foram vários dias aplainando carinhosamente o terreno, o qual é constituído de material arenoso e cheia de sedimentos, portanto muito fértil. Logo que demos por concluida a tarefa de dar condições de erguer a cabana, lá fomos nós atrás dos mourões para erguer a estrutura, trabalho executado por Luciana, Tiago e este que agora vos faz este rumoroso relato.
Depois de cavados os buracos, nove portentosos mourões de quatro metros de altura enterrados, tocou a vez de colocar as travessas, as ripas, e selecionar a palha da cobertura da habitação, trabalho que nos consumiu mais três dias, nos quais eu ainda aproveitava os intervalos para dar conta do imenso e gratificante trabalho de jardinagem que o entorno da cabana pede. E tudo isso misturado ao canto dos sabiás e periquitos, pelo consumo de muita jaca, e cocos aos montes. (Que a Luciana, uma garota de 15 anos, adora, e pede assim que bota os pés aqui na Cururupitanga.)
Já tenho aqui em Pasárgada pouco mais de um ano de vivência, período em que só dispus da minha tenda para minha acomodação, e a construção de um novo espaço para que eu possa efetuar melhor os meus atendimentos se fazia mais do que urgente, coisa que agora estou tirando da mente e colocando no terreno da realidade palpável.
Agora, após darmos conta da demanda mais pesada, toca a cuidar dos detalhes, do acabamento da cabana, ver como o telhado de palha de patioba vai dar conta das chuvas, colocar as janelas, construir os utensílios da vivenda, e projetar uma ampliação da mesma, sendo esta um protótipo para que eu tenha mais conhecimento desse tipo de construção para poder ir fazendo melhor.
Minha tenda fica aqui bem ao lado da cabana, distante uns 15 metros, e pretendo ir ampliando um jardim ligando as duas, já me preparando, também, para me por às voltas com uma horta medicinal mais perto daqui.
Essa cambada de periquitos, secundários pelos teius e as minhas indefectíveis lagartixas, assim que viram a minha cabana erguida, amaram um complô e já estão se achando donos do pedaço.
Eu que me esfalfo a mourejar de Sol a Sol, e é esse povo enxerido que vem aqui se regular?
Assim não vale, Zebedeu! Só muito chá de canela de velho na causa.