CONTANDO UM SEGREDO A LAMPIÃO

CONTANDO UM SEGREDO A LAMPIÃO

*Rangel Alves da Costa

Quando contei o segredo, Lampião se espantou, arregalou os dois olhos que até a cegueira curou.

Abriu a boca em palmo, o sertão quis engolir, parecia um vulcão a ponto de explodir. Sua pele amorenada embranqueceu num instante, eu até imaginei que desse um treco em rompante.

A feição de valentia, na pele trigueira de sol, parecia molambenta e sem qualquer rebeldia. Esse não é o Capitão, foi o que até pensei, deve ser outro homem de um reino que não tem rei.

Mas era mesmo Virgulino, o famoso Lampião, então apenas um homem sem qualquer ostentação, e ferido bem na alma como minha revelação.

Não queria acreditar naquilo que escutou, quis gritar e quis chorar, mas enfim tudo aceitou, porém se roendo por dentro pelo dito que chegou.

Contei a verdadeira verdade, sem ter dó nem piedade, e disse de toda maldade que em seu nome foi feita, que foi propagada em seu nome por pura leviandade.

“O quê?”. “Repita, pode dizer!”. Então eu disse, sentindo já tremelisse com medo da reação, pois não havia sandice na raiva do Capitão, e sim a bravura ferida no maioral do sertão.

“Isso é verdade?”. Confirmei na sinceridade, e segue tudo o que eu disse antes que seja tarde:

“Meu Capitão Virgulino, a quem tenho admiração, parece que deixou de ser respeitado seu nome de Lampião. Tem gente escrevendo besteira por pura judiação, dizendo mentindo e lorota de sua história no sertão, como se sentisse prazer em afundar o seu chão. Um cabra desarvorado disse até que amunhecava, que de outro cangaceiro gostava e sua Santinha não amava. E que de santa não tinha nada, pois no refregar do coito outro cangaceiro acoitava. Tudo mentira, é verdade, mas só tamanha crueldade fez enfeiar o seu nome, desrespeitar sua família com o fel da perversidade. Mas não para aí não, pois a cada dia chega mais um mentiroso pra ferir o Capitão. É tanta conversa inventada que o juízo atormenta, é tanta imundície escrita que o leitor já não aguenta, e não se sabe o interesse de tanta mentira que alimenta. Uns dizem que não nasceu, já outros que não morreu, que no dia de Angico logo cedo escafedeu, traindo a cangaceirama, principalmente o que morreu. Sei não, sei não Capitão. É cada mentirosa estrondosa que mais perece trovão, mas tudo pra desdizer a verdade em clarão, pois quem presteza a justeza nisso acredita não, sabe muito de sua saga nos confins desse mundão”.

Depois de tanta revelação, e com medo da reação, eu saí em disparada que nunca mais parei não.

Escritor

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