Por quê escrevemos tanto sobre sofrimentos?
 
     Eu que já escrevi tanto sobre sofrimento, poderia escrever mais uma crônica sobre a vez que uma garota do Tinder só transou comigo, porque estava bêbada. E o quanto isso me deixou mal. Realmente, muito mal.
     Eu poderia gastar minhas palavras sobre a vez que eu e uma conhecida do Instagram nos cruzamos na rua e ela virou a cara para não ter que falar comigo. E o quanto isso me fez rir ironicamente dos destinos da vida.
     Poderia falar sobre amores ideais não vividos e dores psicologicamente vividas. Sobre paixões de via de mão única e até de emoções incapazes de serem verdadeiramente descritas, mas que foram muito bem sentidas do lado daqui.
     Poderia usar a tela em branco de um computador para queixar-me e culpar a mim e o mundo pelos meus insucessos. Mas na boa? O quê eu ganharia com isso?
     Eu não quero consagrar essas histórias. Eu não quero dar Ibope para o copo meio vazio da minha vida. Por quê não focar no copo meio cheio? Por quê não focar nas coisas que me fazem feliz, nas curiosidades e na simplicidade da vida?
     Temos essa mania de querer escrever sobre sofrimentos, porque parece que gostamos de sofrer duas vezes. Quantos textos, poesias e músicas não há sobre isso?
     Sinto que nosso cérebro procura mecanismos para que sempre vivemos essas lembranças ruins. Ok, sei que isso também faz parte da gente, mas escrever sobre sofrimento realmente é expurgar ou eternizar? Eis a questão.
Anderson RL Silva
Enviado por Anderson RL Silva em 14/01/2020
Reeditado em 14/01/2020
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