AI QUE SUSTO!
O que aconteceu comigo dentro do ônibus?
Gente, foi inacreditável. Quase morri de susto.
Estava eu quietinha em meu assento, com destino ao Shopping, distraidamente, lendo um excelente romance de época, quando sentou-se ao meu lado um senhor de aproximadamente 65 anos. Muito educado, chegou dando as horas e de soslaio, retribuí da mesma forma.
Até aí, tudo normal, cada qual em seu lugar no ônibus com poucos passageiros. De repente, o celular desse senhor tocou, até assustei-me com o barulho repentino. E ele atendeu:
- Alô! Oi, sim, o quê? Eu mandei mata-los hoje e você sabia disso. – Falou todo alterado. – E porque não o executou? Perguntou chateado. – Falou aumentando a voz, parecia irritado. – Não, não! Você é um frouxo! Como não achou o veneno? Perguntou para a pessoa que estava do outro lado da linha.
Quase desmaiei de susto. Quem esse senhor queria matar envenenado? Meu Deus! Achei que talvez eu tivesse escutado errado, mas ele continuou:
- Procure direito. Coloquei-o bem aí em cima do armário, próximo ao Jarro verde, um vidrinho lilás. – Esperou um pouco. – Achou? Bem, agora é só concluir o ato. Como não consegue? Escolhi você porque sempre o achei corajoso e agora vejo que me enganei. Odeio ser contrariado. – Bufou zangado desligando o aparelho.
Arregalei os olhos, estava apavorada. Nunca imaginei que ao meu lado, dentro de um ônibus, sentaria um assassino. Coloquei o livro o mais próximo do meu rosto. Não queria que ele olhasse para mim. Porém, o que eu temia aconteceu, ele começou a falar comigo:
- Veja só, os empregados não são mais como antigamente. Medrosos e irresponsáveis. Exclamou calmamente.
Eu não soube o que responder. Apenas balancei a cabeça e dei um sorriso amarelo. Como alguém que acabou de mandar matar, estaria tão calmo? O celular tocou, eu quase saltei pela janela do automóvel. Olhei ao meu redor para ver se mais alguém havia escutado a conversa, contudo, percebi que apenas eu escutara o diálogo assustador. E ele atendeu mais uma vez:
- E aí? Espero ter boas notícias. – Retrucou todo autoritário. – Hum! Ótimo! Maravilha! – Com o humor já mudando.
Não acreditei que ele estivesse feliz por ser o autor de um crime. Comecei a ter náuseas. Um mal-estar, calafrios. Estava prestes a vomitar. Para piorar, o indivíduo passou a sorrir bem alto, sem culpa nenhuma na consciência. Eu não queria mais ouvir aquela conversa, levantei-me, todavia, voltei a sentar, sem acreditar no que ouvia:
- Muito bem meu camarada! Agora eu afirmo que o efeito desse veneno é rápido e eficaz. Em 20 minutos estarão todas mortinhas da silva. – Falou muito satisfeito.
Minha nossa! Ele falou no plural, isso significava que ele tinha dado a ordem para envenenar várias pessoas. Eu precisava fazer alguma coisa. Sei lá, agarrá-lo pelo pescoço ou começar a gritar chamando-o de assassino. Não poderia deixá-lo escapar. Em meio ao meu desespero, quase agarrando-o pelo colarinho, ele disse ao telefone:
- Estou falando sério, as PULGAS dos pastores alemães não resistirão e eles ficarão limpinhos novamente. O veneno foi caro, mas é eficaz.
Ele falou “pulgas”? O veneno era para um monte de parasitas!? Quase o estrangulei achando que seria um homicida. Fiquei com tanta raiva que a vontade era empurrá-lo da cadeira.
Mas, pensando bem, quem mandou eu ouvir a conversa dos outros, né.
DÉBORA ORIENTE