Minha psicóloga entrou de férias

     Na semana do natal, sou comunicado com essa notícia, pela dita cuja. Eu nem esperava por isso. Como fui inocente, hein? Ela também é um ser humano, que assim como todos que trabalham, merecem tirar férias.
     Um mês sem terapia, para alguém que passou a vida inteira sem, não deveria fazer falta, não é mesmo? Mas logo agora, que eu estava adorando a ideia de eu me conhecer mais com a ajuda de um profissional especializado para isso, foi como tirar o doce da boca de uma criança.
     Já era difícil me virar com ajuda, imagina sem? Mas tudo bem, cá estou sozinho tentando racionalizar meus sentimentos, com a intenção de apenas sobreviver esses trinta dias.
     E sabe o que tem me ajudado nisso? Escrever e beber. Não necessariamente nesta ordem. Estou me sentindo o próprio Bukowski. Mas não se preocupem, este que vos escreve agora, está sóbrio. Tomei apenas uma dose de whisky para relaxar. E hoje é sexta-feira, a sociedade diz que pode. Então, quem sou eu para discordar? Glup, glup, glup!
     A verdade é que a gente sempre procura paliativos para esquecer nossos problemas. Comer, sair, rir, fazer exercício, assistir, ler e ouvir música sempre funcionam comigo. Serve como uma espécie de Merthiolate. Não aquele antigo, mas esse novo, que não arde. Um tipo de remédio, que não esconde a ferida, mas alivia bastante.
     O que queríamos mesmo era resolver nossos problemas de uma vez por todas, para que pudéssemos ser livres para aproveitar nossas vidas. Mesmo sabendo que eles nunca acabarão, lá no fundo a gente acredita nessa ilusão irrisória. E talvez seja isso, o que nos faz levantar da cama. Mas é bem desanimador, saber que nunca ficaremos sem eles.
     O fato é que minha psicóloga entrou de férias, mas esqueceram de avisar para que meus problemas entrassem também.

 
Anderson RL Silva
Enviado por Anderson RL Silva em 03/01/2020
Reeditado em 29/01/2020
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