NOVO MANDAMENTO
A vida é imensa. Feita de pequenos infinitos que um dia morrem. Descobri, como numa epifania, que estou inundado de eternidades a conquistar. Celebrar a morte de alguns ciclos e igualmente celebrar o nascimento de outros.
Sempre ouvi, como um mandamento, que era preciso vencer na vida. Acumular dinheiro, conquistar prêmios, derrotar concorrentes, se matar para não morrer. Essas verdades se tornaram velhas para mim.
Tenho novos mandamentos a serem seguidos. Vencer na vida não é ter um lugar de destaque na sociedade. Vencer na vida é ser inteiro em seus valores, desbravar novos mundos, ter coragem de recomeçar de qualquer ponto, viver fora dos padrões, dizer não, mesmo que todos estejam, zumbis, dizendo sim a tudo.
Não quero ser convencido das verdades de qualquer religião. Quero, no entanto, o amor em sua forma mais pura, caso ele ainda esteja vivo entre os mil porões desses templos. Também não quero ser convencido das utopias de qualquer ideologia política. Não gosto de ser parte do rebanho.
Tenho pressa de viver, como cantou Belchior. Viver cada ano como se fosse o último. Conhecer lugares incríveis, beber com novos amigos, ter mais deslumbramentos e menos tédio. Provar sabores que não imaginava que existissem. Viajar por novos sons. Ler a vida de mais janelas.
Estar sob a lei da liberdade. Desprezar o tribunal diário que sou convocado todos os dias por pessoas de tradições pequenas. Dispensar a maior parte da bagagem, andar com as costas leves. Nada colecionar a não serem momentos e sensações.
Ter mais minutos ao por do sol do que em repartições. Ler mais Philip Roth do que relatórios. Ver mais Roman Polanski do que político na TV. Ser mais poeta do que burocrata.
Não me importuna viver sob qualquer cabana. Desde que o meu quintal seja todo o mundo. Não quero contar dinheiro, quero contar histórias. Não quero dizer amém e sentar-me à mesa com o cidadão que chicoteia o próximo com suas verdades cafonas.
Não quero viver preso em correntes, em muros ou sistemas. Quero a liberdade em seu estado natural, com seus preços e suas recompensas. A liberdade, sem qualquer maquiagem.