Diário de Bordo (Sobre introspeção, comportamento felino e carências afetivas. )
Diário de Bordo (Sobre introspeção, comportamento felino e carencias afetivas.)
Creio que, a analisar pelos muitos eventos que compõem a minha vida, eu devo já ter nascido com a tendência de me tornar o que hoje sou: um ermitão iconoclasta incorrigível.
Faz um ano e alguns dias que me meti de mala e cuia dentro das matas aqui da Fazenda Cururupitanga, incrustada na zona rural da pacata Vila de Olivença, um dos muitos distritos da histórica capitania de São Jorge dos Ilhéus, e isso após ter vivido seis anos recolhido no seio das cinematográficas serranias que emolduram o Bairro do Souzas, em Monteiro Lobato, vivendo um sonho de amor hollywoodiano e construindo uma casinha de bonecas, no dizer de seus visitantes, o que não é coisa de pouca monta.
Well. Essas duas escolhas pelo isolamento, característica marcante de minha introspecção, vieram apenas e tão somente coroar um processo de aprofundamento nas coisas de minha própria alma, a prospectar doses de entendimento para seguir em frente nas estradas desta vida que sempre arregalaram os meus com a estranheza que me causa.
Quando faço referência ao coroamento dessa busca pela solidão, dessa escolha por lugares longe do barulho e do excesso de luz das grandes cidades, é pra pontuar que mesmo vivendo numa grande cidade, eu sempre criei uma ilha de isolamento em torno de mim, abrindo raras frestas por onde adentra um ou outro espécime da humana gente.
Entonces, pibes y chicas, viver sozinho, mesmo quando tendo uma multidão em volta, é uma característica grudada na pele dura deste filho dos sertões que ora vós atormenta com mais um texto incômodo, agora pra abordar a questão dos afetos, e do carinho em particular.
Vejo nesse processo de introspecção uma ferramenta importantíssima para aguçar a nossa capacidade de observação, passando a deter melhores conhecimentos de como agimos e, por extensão, de como agem e reagem as pessoas e seres que caem em nossa teia perceptiva; que histórias esses diversos personagens guardam e quais dessas histórias eles nos permitem participar.
Nem quero adentrar nessa seara repetitiva e enfadonha de dizer que o mundo mudou, que ficou mais frio e distante, como afirma um lamentoso vivente.
Isto é verdadeiro?
É. O mundo muda a todo instante, malgrado a nossa ânsia por estabilidade e promessas de bem-aventurança, amigo Sancho
Retomando o fio da meada nesse labirinto reflexivo em que me encontro, digo-vos que me percebo como um participante ativo do clã dos felinos: sempre arredio ao carinho desconhecido, e, como esses seres peludos, a buscar em mim mesmo locupletação dos afetos de que careço.
Enfim: percebo que esses tempos vividos aqui na Cururupitanga me proporcianaram uma melhor capacidade de olhar para mim mesmo, entender melhor a Natureza, ir me familiarizado mais com as plantas e a fauna daqui, e de quebra, reforço o meu cadinho de compreensão para com os meus semelhantes, esses outros seres que habitam no distante mundo das Terras Civilizadas.