A ciência, vazia de moralidade e/ou contra a filosofia
Explicações 'científicas"
M era uma moça feliz, até à morte do seu noivo. Desde então, ela se tornou muito entristecida com a vida.
Será que a microbiota dela está desequilibrada?? Será que seus neurônios estão apresentando um padrão caracteristicamente depressivo??
Pela neurociência, especialmente, é possível dar um diagnóstico físico-químico totalmente isolado do contexto. É o caso hipotético de M.
Ela não ficou deprimida por causa da morte do seu noivo e sim porque sua microbiota encontra-se desequilibrada.
Reside aí um perigo muito grande, claro, mais um presente de grego da ciência de costas para a filosofia. Pois não é que a filosofia rejeite essa dimensão muito granular de explicação para este ou aquele comportamento e sim que, a partir disso, se passe a desprezar a ligação lógico-emotiva ou moral para o porquê de acontecerem. A melhor resolução para esse dilema é incorporar ambas e endereçá-las às suas áreas mais condizentes.
M pode até ter nascido com uma predisposição para ser mais sensível, mas sua reação a partir do fato hipotético, da morte do seu noivo, é apropriada e não deve ser sumariamente descartada. M não nasceu com depressão, mas esse acontecimento foi um gatilho para expressá-la. E também sobre o possível tratamento que receberia para tentar diluir o seu sentimento [legítimo] de tristeza profunda.
Será que o psiquiatra ou, o neurocientista, deveria receitar um danoninho especializado pra ela??
Entender nossos sentimentos, mesmo no caso de uma tristeza profunda, é tão importante quanto de buscar solucioná-los ou atenuá-los. Entendermos que o luto pode ser uma reação apropriada, sem vê-lo apenas como um problema de escritório, é "humanizar' a percepção.