Por que os conservadores são conservadores? E por que os progressistas são progressistas?
1. Dimorfismo sexual
Nível variavelmente alto e baixo de dimorfismo sexual, respectivamente, para conservadores e progressistas.
''Homem 'macho'''; mulher 'feminina', recatada e do lar''
versus
''Homem [em certa média] mais sensível e empático; mulher [feminista] mais independente''
Dimorfismo sexual é a variação de traços sexuais e psicológicos em uma determinada população. Isso explica [em partes ou, predominantemente] tendências patriarcais em conservadores e matriarcais [nesses últimos, um pouco menos marcantes] bem como uma maior proporção de LGBTs entre os progressistas.
2. Circunstâncias
Pessoas que pertencem à elite são mais propensas a votar em partidos conservadores, por estarem mais preocupadas em manter seus privilégios.
Pessoas com deficiência ou com parentes próximos com deficiência, por lógica, devem ser mais propensas a votarem em partidos voltados para as questões sociais, progressistas.
Pessoas expostas à violência tendem a apoiar o combate ao crime por estratégias conservadoras, aparentemente mais eficientes.
Pessoas que vivem no meio rural são mais propensas a serem conservadoras.
Profissões apresentam composições diferentes de preferências ideológicas. Por exemplo, professores e policiais. Enquanto existe um certo predomínio de progressistas no primeiro grupo, ocorre o oposto no segundo.
3. Personalidade
Diferenças relacionadas com o dimorfismo sexual. Os resultados mais constantes de estudos sobre a relação entre personalidade e preferências ideológicas são de que as pessoas expressivas no traço ''abertura para a experiência'' [imaginativas, curiosas e intelectualmente sensíveis] são mais propensas a votarem em partidos progressistas e/ou a seguirem ideologias desta natureza. Já, aquelas que são mais conformistas, eficientes e organizadas [características do traço ''conscienciosidade''], tendem a abraçar ideologias conservadoras [não apenas do tipo extremista].
Também é perceptível que a personalidade antissocial esteja mais relacionada com a extrema direita, mesmo que a extrema esquerda também tenha um histórico de crimes contra a humanidade e o meio ambiente [sempre aquele dilema: estalinistas e maoistas extremos são mesmo, pacifistas, democráticos e igualitaristas, ou não??]. Porque para quem frequenta sessões de comentários na internet sabe que, entre os ''haters'', o percentual de extremo-direitistas é significativo. Pois parece que também entre os ''bullies'' nas escolas e mesmo na vida ''adulta'. Enfim, de ser aquele serzinho tóxico, cretino e potencialmente inconsertável...
4. Inteligência
O traço de personalidade ''abertura para a experiência'', que falei acima, também está positivamente relacionado com pontuar alto em testes de QI. No outro lado, níveis altos de conservadorismo estão intimamente associados à pontuações baixas em testes cognitivos, tipo comparar frequentadores (((em média))) de igrejas [especialmente se forem evangélicas] com ateus e agnósticos.
Em compensação, apoiar o ''[neo]liberalismo econômico'' também está associado a pontuar alto em testes cognitivos, e que, por sua vez, se relaciona com o lado direito do espectro político-ideológico. Parece que estamos falando de núcleos psico-cognitivos distintos, observáveis nas universidades, onde que existe um domínio do progressismo ou das esquerdas nas ciências humanas (e artes) e do conservadorismo e ideologia capitalista nas ciências exatas [ ainda sou da opinião de que esses cursos mais diretamente voltados para o $$$ são viveiros para as elites econômicas capitalistas]
5. Hipótese de diferenças entre conservadores e progressistas, de minha autoria
Progressistas seriam, em média, mais individualmente diversos, ou complexos, que os conservadores (inclusive relacionado com o primeiro fator apresentado). Isso explicaria a tendência mais forte do conservador ao conformismo social, de preferir se vestir e agir de maneira mais convencional, claro, de acordo com a norma predominante que, historicamente, tem sido conservadora..
6. Racionalidade
Para ambos os casos, seus níveis de racionalidade são insuficientes para serem plenamente racionais. Mas apesar de existir um relativo equilíbrio de pontos positivos e negativos [ou posicionamentos] entre eles, os progressistas, se comparados aos conservadores, ainda estão mais perto da sabedoria, porque apresentam maior facilidade para o pensamento crítico, o que os leva a questionar mais o mundo. Basta olhar para o que o conservadorismo e o progressismo defendem e concordar que o segundo apresenta uma maior proporção de observações factuais [filosóficas] do que mitológicas ou semanticamente manipuladas, do que o primeiro. No entanto, em alguns aspectos muito importantes os conservadores estariam melhor guiados, por exemplo, sobre comportamento, e uma explicação curiosa para isso é de que, como a maioria dos seres humanos ainda são mais para conservadores, então, é muito mais fácil para um conservador do que para um progressista [típico] compreender o comportamento padrão [O seu próprio].
Estamos sempre falando de médias [ou predomínios] e, portanto, isso não significa que todo progressista ou conservador terá que apresentar essas características, mas, é muito provável que a maioria cairá em ao menos um desses ''estereótipos'.
Conclusão
A política é uma arena de interesses, público e particular, onde existe uma diversidade de grupos que sempre se definem como ''detentores de todas as verdades'. Mas, na verdade mesmo, esses grupos, quando defendem seus pontos de vista, projetam suas circunstâncias/vivências e predisposições biológicas/comportamentais, como a personalidade, do que, de fato, buscarem por uma compreensão objetiva da realidade.
O neoliberal, por exemplo, não defende essa doutrina sócio-econômica (enfatizada no fator econômico) apenas por considera-la a mais correta, verdadeira, natural ou eficiente para combater a pobreza ou para produzir prosperidade, mas também ou especialmente por causa do seu estilo cognitivo, mais relacionado com as ciências exatas, seu tipo de personalidade e/ou também por suas circunstâncias pessoais.
Sempre coloco como dicotômicas a subjetividade e a racionalidade porque, pelo domínio da primeira, achismos e opiniões pessoais são endossados como verdades absolutas. Pela racionalidade, passa-se a considerar opiniões, gostos ou perspectivas além dos pessoais, buscando então ponderar ou dessaliniza-los.
Quem gosta muito de frio, talvez possa gostar mais de calor ou, ao menos, reconhecer aspectos positivos do tempo quente.
Quem é muito neoliberal, talvez possa reconsiderar um pouco e dar maior importância à justiça social do que à (suposta) liberdade econômica.
Enfim, de sempre enxugar excessos que possam descambar para o fanatismo e/ou para o preconceito.
A ideologia, mesmo que não seja a sua intenção original, como eu já comentei em outro(s) texto(s), tem como hábito característico exacerbar seus pontos de perspectiva resultando na distorção dos mesmos, exatamente como as famosas projeções cartográficas de Mercator e Peters, em que os hemisférios do globo terrestre são factualmente descaracterizados, sendo que um é expandido às custas do outro, além e aquém de suas proporções verdadeiras.
A maioria dos conservadores e dos progressistas defendem seus pontos de vista ou perspectiva, sem ser plenamente com base na racionalidade ou ponderação analítica, moral e autocrítica, e sim por básica autoprojeção semanticamente manipulada que se passa como razão. Esse texto é importante porque, se a política está onipresente em nossas vidas, precisamos aprender quais são essas forças intrínsecas que nos puxam para um lado ou para o outro, até para que possamos melhorar nossa compreensão de cada tópico e, portanto, nossos posicionamentos.
Conservadores e progressistas não são absolutamente moldados por local, cultura e família de onde se originam e/ou com os quais interagem. O progressista típico não defende por uma maior igualdade social porque, ''do nada'', sua consciência se direcionou para esse caminho ou perspectiva, diga-se, mais holística, e sim porque também nasceu com ''facilidades'' intrínsecas, como ter uma personalidade mais empática ou um estilo cognitivo mais reflexivo//autocrítico. A priori, saber disso, não invalida a perspectiva de ninguém até por ser esperado que tenhamos princípios, de não sermos como folhas de papel em branco, totalmente moldáveis pelos ambientes, porque esta relação elementar é um feedback do que herdamos dos galhos genealógicos dos nossos pais, de quem somos, com a pluralidade de ambientes em que vivemos. Mas é apenas pela racionalidade que conseguimos superar esta fase imatura de inteligência, em que determinamos a totalidade de uma verdade, pelo que sentimos, e que tem resultado ao longo da história humana em tantas consequências trágicas.