25 Anos depois
Volto a falar sobre os moradores que vivem debaixo dos viadutos ou nas nossas ruas. Serei bastante rápido para não constranger o meu amigo leitor.
Impressionante!
Mesmo sem teto... Mesmo sem nada... Ainda resta para alguns o sentimento de solidariedade.
Ontem, depois de muitos anos, voltei a presenciar uma cena no cotidiano da cidade. Desta vez eu não estava passeando, mas indo para o trabalho, quando avistei adiante um mendigo travestido de mulher, desses mais chegados à loucura, sentado cabisbaixo no canto da calçada, e um outro, já não tão louco, vindo em minha direção. Notei que ele também reparou no que estava sentado e balançava a cabeça como a censurar ou lamentar o estado em que seu colega se encontrava.
Pensei com meus botões: será que vão se desentender?
Ledo foi o meu engano.
Ele passou pelo pobre coitado no exato momento que eu. Parei um pouco mais a frente e virei-me.
Deparei com um verdadeiro flashback de um acontecimento anterior.
O mendigo mais lúcido, que já estava bem mais distante no seu caminho, voltou até ao que estava sentado e, tirando um saco plástico transparente com dois pães de sua sacola, deu-lhe um dos pães, o que foi imediatamente aceito.
Com esse gesto simples e despretensioso aquele mendigo doou nada mais, nada menos, que 50% do que possuía ao mais necessitado.
Aquele homem, sem saber, foi o instrumento da vida a me mostrar e garantir que ninguém é tão pobre que não possa dar alguma coisa a alguém e que o verdadeiro amor consiste em desapegar-se de todo excesso e dividir com os menos favorecidos.
29/01/11