Cemitério

Hoje aqui sentando na varanda, acendo um cigarro, observo esse céu celeste com todas suas divindades que estão a me ver aqui em baixo. Seres tão puros que acalmam a tempestade que habita a minha alma. Faz-me pensar e refletir em todos os meus vizinhos aqui do lado.

A cada dia que se passa novos residentes aparecem. Alguns com a vivência de um ancião, outros com as das malandragens da vida, e algumas são sementes sem experiência alguma. Muitos chegam pra suas enormes moradas, aos pés das outras são enormes palacetes, com seus familiares lá esperando de braços abertos sua chegada. Outros jogados em minúsculas quitinetes, sem parentes ou amigos, vai viver sozinho até que um novo residente chegue pra ocupar sua morada.

Muitos já são velhos moradores, e contam aos recém-chegados seus passados de gloria, sobre os bailes luxuosos da elite. Contam tudo como se tudo aquilo mostrasse seu poder e importância sob os demais. Outros em suas varandas esperando a visitas dos seus entes queridos, mas já bateram as asas e os queridos raramente lhe fazem a tão esperada visita. Mas ainda tem os que se acham rebeldes sentem que ainda não pertence aquele lugar, são os jovens, sempre brigando e xingando, achando que são os donos da razão.

Passa horas, dias e anos e sempre abre mais vagas pra novos inquilinos desse imenso condomínio. Entre tantos vai e vem, tantos que adentram esses portões, tantos que são expulsos das quitinetes, jogados numa terrível vala, jogado em bolsas plásticas junto de tantos outros, tendo sua cabeça violada, destroçada por uma simples pá. Pensa em gritar, em reagir por essa infâmia de ser desmontado por um simples objeto, mas quando visto já se tornou fumaça dissipando no ar. E assim outra vez os portões do condomínio se abrem pra o novo morador.

És oque fomos, serás oque somos.

Luis Alladin
Enviado por Luis Alladin em 05/11/2019
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