NO HOSPITAL

A vida é a vida. Cheia de surpresas e possibilidades.

Na portaria do hospital sento-me a uma cadeira. Preciso aguardar pois já entraram o número permitido de visitas para um parente. Minha entrada não foi autorizada. Não me aborreço.

Estou tensa e um pouco temerosa. Hospital sempre me traz tristes recordações e reacende em mim sentimentos de dor e desespero. Apesar de ter me saído bem em inúmeras situações, ainda assim, fico tensa.

Vejo a intensidade do fluxo de pessoas. Estão todas absorvidas a seus problemas. Percebo a presença de uma família. Talvez mãe, filho e primo. Passo a observá-los.

A mulher pega o telefone. Conversa com alguém de forma franca.

- A vovó teve um AVC. Estão esperando apenas o final. Não há aparelho ligado. Apenas que ocorra naturalmente.

Ouço a conversa e fico em estado de alerta. Como o sofrimento humano ocorre em todo instante, a todo momento. Quem seria essa avó? Quantos anos teria?

Continuo a observar. A jovem está tensa. Usa o celular. Faz alguns comentários. Liga para parentes. Comenta novamente o estado de saúde da avó.

Estou absorta nesses pensamentos quando vejo uma mulher se aproximar. Caminha tranquilamente. Não há preocupação em seu olhar. Apenas a certeza de dever cumprido.

Deixo meus pensamentos vagarem e passo a observar quem entra e quem sai. Muitos são funcionários do hospital. Apresentam um semblante cansado e extremamente urgente para ir embora, vislumbro uma ponta de preocupação em cada olhar.

Penso nos pacientes. Quantos estão internados neste hospital? Quantas dores e sofrimentos estas paredes já absorveram e tem absorvido cotidianamente? Meu coração se emociona internamente. Estou num momento emotivo e vivo intensamente essas dores.

Mas preciso seguir meu raciocínio. Observo que muitas vidas também foram salvas pelas mãos destes médicos e enfermeiros. Tenho a possibilidade de vislumbrar nos olhos deles a sensação de dever cumprido, de terem feito o máximo para que o máximo de vidas fossem preservadas.

Sorrio internamente, lembrando dos abraços e carinhos dos pais com os filhos, netos com os avós, tios, primos, mães com seus recém nascidos. Meu sorriso se alarga. Quantas alegrias estas paredes também já presenciaram!

Uma, em especial relato agora. Uma criança de dez anos, juntamente com uma outra de nove. Estão acompanhadas de uma tia e do pai. Levam uma lata de biscoitos importados para uma mãe recém operada. Presente escolhido com tanto amor para alegrar um momento de dor. Agora lágrimas rolam de meus olhos. Essa mãe não sabe o seu futuro. Tudo é incerto. Mas o amor destas crianças é a certeza do amor de Deus para com ela. Certamente, ela irá superar o que tiver de viver.

Retorno para a jovem que está ao meu lado. A chegada da mulher, talvez sua mãe, a deixa tranquila. Saem juntas. Braços dados para enfrentar o que tiver de ser.

Lembro um pouco da minha vida. Do que já passei por este hospital. Estou de repente com lágrimas nos olhos agradecendo por ter vivido tudo o que vivi e ter a oportunidade de estar aqui, diante do hospital, podendo olhar tudo com os olhos da alegria. Olhos da vitória. Olhos do amor de Deus.

Sim. Hoje sei que ganhei uma nova oportunidade. Que bom que pude ficar sentada na portaria deste hospital e me lembrar do gosto daqueles biscoitos. Revivi um pouco de minha história e com tranquilidade posso dizer: Obrigada Senhor!

NEUZA DRUMOND
Enviado por NEUZA DRUMOND em 17/10/2019
Reeditado em 17/10/2019
Código do texto: T6772200
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