O registro de Gonzaguinha
Acabara de perder minha mãe e já me encontrava no cartório, aguardando a Certidão de Óbito, quando reparei naquele nordestino humilde em seus trejeitos que chegava para registrar o filho recém nascido.
_ Pois não? pergunta o funcionário que me atendera anteriormente.
_ Queria registrar o meu menino. responde o pai, simplesmente.
_Qual o nome da criança? indaga o rapaz de bigodes e cabelos negros.
O pai cheio de orgulho pelo nome escolhido, responde em um tom que pude ouvir de onde me encontrava:
_Gonzaguinha!
Ao que o escrivão de imediato respondeu:
_Senhor, o senhor não pode usar esse nome porque isso é nome de família, um sobrenome.
Sem entender o que o rapaz estava querendo dizer, o homem, que já não era mais um jovem, então disse-lhe efusivamente:
_ Mas como o Gonzaguinha pode?
_Como disse, Gonzaguinha é sobrenome. O pai, Luiz Gonzaga, tinha este sobrenome.
O pai, sem pensar direito e queria de qualquer jeito este nome no filho, respondeu, sem titubear:
_ Então coloca Zé Gonzaga!
_ Meu senhor, eu já te disse que Gonzaga é nome de família e o senhor não tem esse sobrenome! Respondeu o inquieto funcionário e cuja fila já aumentava e eu, ali do lado, esquecia-me do luto e ria, achando tudo muito cômico.
De repente surge a mãe com o menino no colo, sem entender o porqu~e de tanta demora.
O marido, irritado com o funcionário, talvez achando que este estivesse com má vontade de registrar o pequeno neném, contou à esposa a confusão e os dois foram embora sem a Certidão de Nascimento.