O registro de Gonzaguinha

Acabara de perder minha mãe e já me encontrava no cartório, aguardando a Certidão de Óbito, quando reparei naquele nordestino humilde em seus trejeitos que chegava para registrar o filho recém nascido.

_ Pois não? pergunta o funcionário que me atendera anteriormente.

_ Queria registrar o meu menino. responde o pai, simplesmente.

_Qual o nome da criança? indaga o rapaz de bigodes e cabelos negros.

O pai cheio de orgulho pelo nome escolhido, responde em um tom que pude ouvir de onde me encontrava:

_Gonzaguinha!

Ao que o escrivão de imediato respondeu:

_Senhor, o senhor não pode usar esse nome porque isso é nome de família, um sobrenome.

Sem entender o que o rapaz estava querendo dizer, o homem, que já não era mais um jovem, então disse-lhe efusivamente:

_ Mas como o Gonzaguinha pode?

_Como disse, Gonzaguinha é sobrenome. O pai, Luiz Gonzaga, tinha este sobrenome.

O pai, sem pensar direito e queria de qualquer jeito este nome no filho, respondeu, sem titubear:

_ Então coloca Zé Gonzaga!

_ Meu senhor, eu já te disse que Gonzaga é nome de família e o senhor não tem esse sobrenome! Respondeu o inquieto funcionário e cuja fila já aumentava e eu, ali do lado, esquecia-me do luto e ria, achando tudo muito cômico.

De repente surge a mãe com o menino no colo, sem entender o porqu~e de tanta demora.

O marido, irritado com o funcionário, talvez achando que este estivesse com má vontade de registrar o pequeno neném, contou à esposa a confusão e os dois foram embora sem a Certidão de Nascimento.

Amitafcarrera
Enviado por Amitafcarrera em 15/10/2019
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