Recriando o passado
Ao ascender em sua condição social, e estabelecer-se numa posição de destaque em uma profissão qualquer, e adquirir certa proeminência, muita gente, orgulhosa de suas conquistas, ao evocar a sua vida pregressa, para dá-la a público, a recria de modo a satisfazer seu ego, sua vaidade, ocultando aquilo que a envergonha, no seu entender, e dotando-a de elementos favoráveis. Rememorando os seus anos de escola, vêm-lhe à mente suas experiências, o seu desinteresse pelos estudos, os professores, despreparados muitos deles, e não poucos desinteressados do exercício correto do magistério, e a escola, que nenhum meio de aquisição de conhecimentos lhe ofereceu, e é obrigado, contra a sua vontade, a reconhecer as deficiências de sua formação intelectual; molda, então, o seu passado, emprestando à escola recursos que lhe faltavam, ou lhe escasseavam, e aos professores vocação e talento dos quais eles eram desprovidos, e a si mesmo dando-se como aluno exemplar, dedicado aos estudos. Não deseja tal gente dar a conhecer ao público - seja este constituído de familiares e parentes, seja um pequeno círculo de amigos, seja um grupo de colegas, seja toda a população de uma cidade, ou de um país - a miséria que foi a sua formação intelectual, em especial a escolar.