Tudo é uma questão de perspectiva
Os humanos, como eu, que gostam de receber visitas se preparam como podem para agradar seus hóspedes, desde a limpeza da casa até a compra de quitutes especiais, tudo é feito com muito carinho, mas geralmente esquecem de avisar seus animais de estimação que haverá alterações na harmonia da local. Quando as visitas chegam trazendo seus bichinhos, é possível ver e sentir os diferentes comportamentos dos seres de quatro patas. Se fosse possível decifrar os miaus e au-aus dos moradores, tenho certeza que se conseguiria descrever os sentimentos que levam aos comportamentos. É só imaginar as cenas que aconteceram por aqui no final de semana.
A cadela Matilda, ouve o barulho do carro chegando, parece que reconhece o ronco do motor. Ou será o cheiro do motorista e de suas acompanhantes? Quando o carro entra na garagem, não tem mais dúvidas, é ele sim, seu irmão humano e suas primas de quatro patas, Kika e Amy. É um au-au misturado com uivos, não sabe se chora se ri, se corre ou fica parada. Seu au-au diz mais alto: abre a porta, abre logo... e quando o reencontro se dá, as primas não conseguem nem sair das guias. Matilda não se preocupa se vai ter que dividir espaço, prato de comida e pote de água, o importante é que Kika e Amy estão ali, para brincarem, correr, latir na cerca, tomar banho de sol e repetir tudo de novo, o tempo todo, até cansarem.
As visitas entram na casa e os três felinos que dormiam placidamente na sala já se espalharam, mas o irmão humano ainda consegue fazer um carinho em cada um deles, porém, quando ouvem os latidos das primas caninas dai a coisa piora. É possível ver os pelos arrepiados. Os irmãos Faísca e Filó até fazem as pazes e se escondem nas cadeiras da mesa, que ficam cobertas pela toalha, nem se mexem. O Deim fica por perto de seu humano mor, e quando este vai pra rua e ele sai junto, pronto... caiu no faro da Amy (o que tem de baixinha tem de metida), a danada sai latindo no coitado do gato branco, que trata de se esconder em baixo do carro.. A gatinha Filó se atreve a sair na rua e também é corrida pela Amy. Esses dois ficam sumidos por mais de vinte e quatro horas, só retornando quando as visitas vão embora, definitivamente, mesmo, mesmo.
Não sei como aconteceu, mas o Faísca permaneceu dentro de casa, porém, chegou uma hora que ele não conseguia ficar de boca calada. Miava e olhava pela janela, como que perguntando por onde andava seu amigo inseparável, Deim. Dava a entender que não precisava se preocupar com sua irmã Filó, pois sabia que ela se viraria muito bem na rua. Seu miado dizia que o Deim o preocupava mais, pois é o mais velho deles e está muito gordo, o que dificulta, por exemplo, o seu pular para lugares altos, no caso da cadela malvada o atacar. Não adiantava explicar ao Faísca que seu amigo estava bem, que ele iria voltar.
Quando chegou a noite e as visitas foram embora, a Matilda calou-se, baixou as orelhas, procurou sua caminha, suspirou e ali ficou, na maior “depre”. O Faísca, vendo que nada mudava, resolveu se deitar, quem sabe pensando que não tinha mais o que miar.
Hoje, quando acordei os três felinos estavam de prontidão me esperando para lhes servir o café da manhã e a Matilda, bem feliz, também me fez a festa de sempre. Tudo voltou ao normal.
Então, receber visitas é bom, para nós humanos, para a Matilda, que faz festa sempre para seres de duas pernas ou quatro patas, desde que estejam dispostos a brincar com ela. Mas visita nunca é bom para os bichanos, que preferem ficar no aconchego, sem barulho, sem movimento. Tudo é uma questão de perspectiva, ou de querer.
Ah, esses humanos e seus bichos!